Setembro Amarelo: A importância de uma rede de apoio

20 de setembro de 2022 Off Por Ray Santos
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Por Tamara Mendonça *

O Brasil é um dos países com a maior taxa de suicídio do mundo, segundo uma pesquisa produzida pelo DATASUS. Os dados são de julho deste ano, e indicam que o número de casos de suicídio no Brasil subiu de 7 mil para 14 mil nos últimos 20 anos, o que significa que há mais de um suicídio cometido a cada hora, sem contar casos não notificados. Nesse sentido, é importante que haja uma conscientização da população e uma intervenção por meio das políticas públicas para compreender e mudar este cenário.

A campanha do Setembro Amarelo é uma ação organizada por diferentes entidades da área da saúde para o combate ao suicídio. A campanha tem por enfoque trazer o tema à tona para discussão, uma vez que por muitas vezes é abordado como um tabu, para que sejam pensadas formas de prevenção.

Não tem como prever quem cometerá suicídio, mas é possível avaliar alguns riscos individuais. O principal fator de alerta está relacionado à verbalização da ideação suicida. Se a pessoa faz constantes menções à insustentabilidade desse desgaste emocional, ao fato de ‘não aguentar mais’, se mostra profundamente desesperançosa quanto à possibilidade de sair de uma crise, é necessário ficar em alerta.

Outros possíveis fatores de alerta podem estar relacionados a um isolamento persistente dos meios sociais, ausência de perspectiva de vida ou de desejo de maneira generalizada (inclusive para a execução de atividades cotidianas que antes não se mostravam tão penosas).  De toda forma, é necessário analisar caso a caso.

É importante verificar se a pessoa possui acesso a uma rede de apoio sócio-afetiva; a lazer; a condições de trabalho, renda e sobrevivência dignas; ao acesso à saúde e condições de sono e descanso de qualidade. A mobilização de uma rede de apoio para a prevenção do suicídio é fundamental, tanto como um suporte para casos de emergência, quanto porque os laços são muito potentes para a produção de sentidos para o sujeito, para que este se se veja amparado e como alguém cuja vida tem importância para aqueles que estão à sua volta.

Para além disso, a construção de uma rede de cuidado, que pode envolver apoio multiprofissional (em se tratando de saúde) e de diversos âmbitos da vida do indivíduo (família, trabalho, escola, círculos de amigos, campos de lazer) é extremamente relevante no sentido de proporcionar um cuidado integral ao sujeito. Posto que, sendo o suicídio um processo multifatorial, este requer, portanto, ações integradas, mas que partam de diversas vias, desde que sempre pautadas pelo acolhimento.

As principais vias de ação e prevenção são o acolhimento, o acionamento da rede de apoio e a viabilização do acesso à informação. É importante que o sujeito seja ouvido/acolhido por aqueles a quem solicitar ajuda, sem julgamentos, comparações, e outras tentativas de diminuição de seu sofrimento. Isso é possível através de uma escuta profissional, por essa razão é importante orientar o indivíduo em risco a buscar esse tipo de auxílio, de preferência já disponibilizando possíveis serviços que prestem atendimento a este tipo de demanda.

Por isso, é importante que aqueles que compõem a rede de apoio do indivíduo e se disponham a estar com ele compreendam que seu papel é diferente de um acompanhamento profissional. Ambos são relevantes ao processo de acolhimento, mas diferentes. Por essa razão, é importante garantir que, além de uma rede de cuidado, o indivíduo tenha acesso a uma escuta e tratamento conduzidos por profissionais capacitados. Além disso, é fundamental mobilizar a rede de apoio mais próxima e de confiança do indivíduo, para que esse suporte venha de múltiplas direções.

Por fim, é fundamental que o Setembro Amarelo não seja tratado como uma campanha pontual e puramente mercadológica, como se vê em algumas estratégias empresariais e publicitárias. Mas que seja uma constante, um compromisso tanto da população e dos governos em relação ao cuidado à saúde mental – uma vez que os índices podem ser atenuados, entre outros fatores, pela implementação de políticas públicas e ações coletivas.

Tamara Mendonça *, docente em psicologia da Estácio.

Por Patrícia Belarmino


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