Novembro Roxo: campanha reforça importância do pele a pele para prematuros

Novembro Roxo: campanha reforça importância do pele a pele para prematuros

21 de novembro de 2023 Off Por Marco Murilo Oliveira
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Para a médica pediatra Loretta Campos e a enfermeira Janaína Araujo, especialistas em aleitamento materno, método é fundamental para ajudar no vínculo entre a mãe e o bebê

A taxa de nascidos prematuros no Brasil recuou na última década, mas o país ainda tem um dos maiores números de casos na América Latina. Os dados do relatório “Born too soon” (Nascido cedo demais, em tradução para o português), realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), servem para reforçar a importância do Novembro Roxo, mês de conscientização sobre a prematuridade. Em 2023, o foco da campanha é o contato pele a pele (também conhecido como método canguru) entre a mãe e o bebê prematuro já nos primeiros momentos após o parto.

Para a médica pediatra e especialista em aleitamento maternoLoretta Campos, fundadora do Espaço Zune, a atitude parece simples, mas estudos vêm mostrando seus diversos benefícios. “O estímulo sensorial gerado pelo contato pele a pele nos bebês prematuros é muito importante para o vínculo entre mãe e filho. E os trabalhos mostram que ele melhora até mesmo a recuperação desse prematuro”, explica.

Benefícios do pele a pele

Mesmo para os bebês prematuros, o leite materno continua sendo a melhor fonte de alimento. De fato, a enfermeira Janaína Araujo, que é consultora de amamentação no Espaço Zune, ressalta que o leite dessas mães apresenta maior teor de proteínasgorduras e sódio, além ainda de ser rico em imunoglobulinaslactoferrina e componentes de defesa do organismo com atividade antimicrobiana, antiinflamatória e imunomoduladora.

“O melhor alimento para o bebê prematuro é o leite da sua mãe prematura. Esses bebês, quando alimentados com o leite de suas mães, tendem a ter alta, em média, duas semanas antes que os alimentados com fórmula láctea. Eles também têm quase 6% menos probabilidades de reinternação no primeiro ano”, frisa a especialista.

Contudo, essa amamentação pode ser desafiadora para bebês prematuros e o método pele a pele é uma boa forma de lidar com o processo. “O contato pele e a pele possibilita um sucesso maior do aleitamento materno quando esse prematuro tem a possibilidade de sugar o seio da mãe. Ele é fundamental para o desenvolvimento e potencializa o apego entre mãe e filho, além de favorecer também a produção do leite materno e fazer com que a iniciativa do bebê para a sucção seja alcançada de forma mais eficiente e rápida”, completa.

Desafios da prematuridade

Falar sobre a prematuridade e seus desafios é importante não para gerar medo nas tentantes e gestantes, mas para difundir formas de lidar com ela com mais leveza e bem-estar. Como explica a pediatra Loretta Campos, são classificados como prematuros os bebês que nascem antes de trinta e sete semanas de gestação, podendo ir de moderados – entre trinta e duas a trinta e seis semanas de gestação – a muito prematuro – de vinte e oito a trinta e uma semanas – ou até prematuros extremos, que têm menos de vinte e oito semanas.

Para todos os efeitos, a médica esclarece a importância do acolhimento para que essas mães estejam bem consigo mesmas e com seus bebês. “Conseguir ou não amamentar vai muito do nível de prematuridade. Bebês com trinta e quatro, trinta e cinco semanas vão ter uma sucção um pouco mais potente, mais forte, mas não significa que seja um processo menos desafiador ou que não seja necessário apoiar essa mulher”, pontua.

De acordo com a médica, as mães iniciam a produção de colostro a partir da décima sexta semana de gestação e a descida do leite tem início, na maioria das vezes, entre o terceiro e o quinto dia após o parto. Por isso, as mães prematuras podem amamentar, mas o fator determinante está na capacidade de sucção do bebê. “É muito importante o acompanhamento com a fonoaudióloga na UTI pediátrica em conjunto com a pediatra para avaliar a sucção e o risco de broncoaspiração na alimentação via oral”.

Porém, apesar desses obstáculos, a enfermeira Janaína Araujo ressalta que durante o contato pele a pele no primeiro momento possível após o parto o bebê busca o seio da mãe para praticar a sucção não nutritiva. “É a forma perfeita para que ele comece a aprender a mamar antes de conseguir coordenar totalmente a sucção, a deglutição e a respiração”, explica.

Por fim, a pediatra Loretta Campos argumenta que a prematuridade precisa ser acompanhada por diferentes especialistas e que os pais devem ser incluídos nesse cuidado. “É muito importante entender que essa família precisa ser acolhida. Houve uma mudança entre a expectativa e a realidade que essas famílias estão vivendo. Existe o medo também de sequelas, de complicações que essa criança venha a ter. É necessário contar com uma equipe multidisciplinar, incluindo suporte com psicólogo”, finaliza.

Fábio Marques


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