Aplicativo vai facilitar o manejo da irrigação para famílias de agricultores assentados em Goiás

Lineu Neiva Rodrigues, pesquisador da Embrapa Cerrados

O clima é o fator de maior importância na produção agrícola.

A incerteza climática, principalmente das chuvas, representa uma ameaça significativa à produção de alimentos e, consequentemente, aos desafios da erradicação da pobreza, que é parte central dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.

Esse impacto é ainda mais significativo na pequena agricultura, que, em geral, tem pouco acesso às tecnologias disponíveis, entre elas, a irrigação.

Os primeiros relatos sobre a prática da irrigação datam de aproximadamente 6 mil anos.

Esses relatos indicam que os colonos na Mesopotâmia sofriam com a baixa produtividade impactada pela variabilidade do clima. Além disso, tinham o sonho de desenvolver regiões extremante secas.

Para superar esses desafios, esses colonos construíram canais e desviaram a água do Rio Eufrates, viabilizando plantações em áreas mais remotas, iniciando assim, até onde se sabe, a prática da irrigação.

A tecnologia, embora antiga, ainda não está acessível para grande parte da agricultura brasileira. A irrigação desempenha um papel central na melhoria da qualidade vida do pequeno agricultor, aumentando a produtividade agrícola, trazendo estabilidade de renda e resiliência climática.

Em muitas regiões em desenvolvimento, os pequenos agricultores dependem da agricultura de sequeiro, o que os expõe a riscos decorrentes da variabilidade sazonal e de eventos climáticos extremos.

A irrigação ajuda a mitigar esses riscos, garantindo uma disponibilidade hídrica mais consistente, possibilitando que os agricultores cultivem durante os períodos de seca e adotem culturas de alto valor econômico.

A irrigação tem, portanto, o potencial de trazer segurança (estabilidade) na produção de alimentos, melhorando a vida, principalmente das pessoas mais vulneráveis, como as mais de 5 mil famílias de agricultores assentados de reforma agrária de Flores de Goiás, Formosa e São João d’ Aliança, no Vão do Paranã, no Nordeste de Goiás.

A região se prepara para dar um importante salto de desenvolvimento socioeconômico a partir da produção de frutas em sistema irrigado, com a contribuição técnica da Embrapa Cerrados (DF).

A Unidade é parceira do projeto “Fruticultura Irrigada do Vão do Paranã”, lançado em 2023 pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa/GO). Também participam do projeto a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a Emater Goiás, o Senar/GO e as prefeituras locais.

Um dos objetivos do projeto é levar a irrigação como uma tecnologia crucial para o desenvolvimento da região e a melhoria da qualidade de vida dos assentados de reforma agrária, já que o acesso à irrigação possibilita o plantio de culturas de alto valor como as frutas, além de aumentar a produção agrícola em até 50% e o rendimento familiar entre 20 e 30%. 

O desafio é fazer com que o projeto deixe um legado e que as atividades e conhecimentos gerados possam ser incorporados pela comunidade.

Para que isso seja possível, é importante agregar estratégias de capacitação e outras tecnologias atuais que já estão disponíveis e que possam contribuir para uma irrigação mais eficiente.

Ou seja, uma irrigação que faz o uso consciente dos recursos hídricos, aplicando a água na quantidade e no momento correto.

É importante que os irrigantes estejam atentos aos avanços tecnológicos, uma vez que as novas tecnologias podem contribuir para melhorar a eficiência do sistema, facilitar o manejo e beneficiar o ambiente.

Qualquer estratégia, entretanto, que objetive melhorar a eficiência de irrigação deve priorizar o manejo.

Existem diversas alternativas disponíveis para manejar adequadamente um sistema de irrigação. É importante que essas tecnologias estejam também acessíveis aos pequenos agricultores.

No projeto, foram apresentadas aos produtores algumas possibilidades para o manejo da irrigação, como o tensiômetro.

No entanto, o objetivo é disponibilizar aos produtores uma tecnologia que possa auxiliar o manejo da irrigação utilizando como base uma plataforma web ou um telefone celular.

A ideia é também mostrar que essas tecnologias estão disponíveis para o pequeno produtor e podem facilitar a operacionalização do manejo da irrigação.

Nesse sentido, foi desenvolvido o software “Irrigar para desenvolver” (ID).

O software é resultado de uma parceria entre a Embrapa Cerrados e a Codevasf, desenvolvido com o objetivo de oferecer uma ferramenta simples e prática para o manejo da irrigação, contribuindo assim para o desenvolvimento do setor frutícola entre agricultores familiares beneficiários de projetos de reforma agrária no Vão do Paranã, com foco inicial nos municípios de Flores de Goiás, São João D’Aliança e Formosa.

O aplicativo busca contribuir para a inclusão produtiva desses agricultores.

Desenvolvido com foco na usabilidade e simplicidade, o aplicativo foi projetado para ser de fácil manuseio pelos irrigantes da região.

A principal funcionalidade é o cálculo automático da lâmina e do tempo de irrigação, com base nas informações obtidas de estações agroclimatológicas instaladas nos três municípios.

A versão atual do aplicativo possibilita o manejo da irrigação nas culturas de maracujá e manga e está disponível, neste primeiro momento, para uso agricultores familiares beneficiários de projetos de reforma agrária no Vão do Paranã.

Com esse aplicativo, que em breve será disponibilizado a esses agricultores, a expectativa é de contribuir para que a operacionalização do manejo da irrigação seja facilitada, contribuindo para o uso eficiente dos recursos hídricos e para a redução dos custos com energia.

Além disso, espera-se que a irrigação possa ser de fato incorporada à rotina dos agricultores, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da agricultura na região. 

Afinal de contas, a irrigação é uma tecnologia que empodera os agricultores — especialmente as mulheres.

Ao contribuir para reduzir a carga de trabalho, ela contribui naturalmente para a melhoria do bem-estar geral da família.

Para o agricultor, poder visualizar os seus plantios e tomar decisões utilizando um smartphone enquanto se lavanta e toma o café da manhã, é cidadania.

E para a Embrapa Cerrados, que comemora 50 anos em 2025, é um trabalho que contribui diretamente para a inclusão digital no meio rural.

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