“Boom” de canetas emagrecedoras pode prejudicar doentes crônicos
23 de março de 2023Para endocrinologista Guilherme Borges, há risco de desabastecimento, deixando pessoas com diabetes sem medicação. Além disso, uso indiscriminado oferece riscos
A confirmação do uso de medicação injetável à base semaglutida como opção de tratamento contra o sobrepeso e a obesidade transformou as chamadas “canetas emagrecedoras” em objeto de desejo de todos que buscam alguma melhora na composição corporal. Diante disso, estima-se que o mercado das drogas com semaglutida, que já movimenta US$ 23 bilhões anualmente apenas com o uso por pessoas com diabetes, salte para US$ 100 bilhões nos próximos anos. Para o endocrinologista Guilherme Borges, embora seja um reforço bem-vindo no combate à obesidade, há risco de desabastecimento diante do uso indiscriminado. “Os representantes até avisaram a todos os médicos prescritores que isso poderia acontecer”, afirma.
“Boom” das canetas emagrecedoras
A procura pelas “canetas emagrecedoras” tem sido tamanha que especialistas já a comparam ao impacto de outros medicamentos para disfunção erétil e antidepressivos. De fato, Guilherme esclarece que essa popularidade encontra justificativa na eficácia dessa medicação no controle da glicose e na perda de peso.
“Dentre as medicações que temos disponíveis no Brasil até hoje para o tratamento de sobrepeso e obesidade, essas opções injetáveis são as melhores em termos de percentual de perda de peso, podendo chegar a em média 15% do peso perdido e até mais em alguns pacientes”, pontua.
Ele explica que muito disso se deve à forma como a semaglutida reage no organismo humano, favorecendo a regulação da glicemia após as refeições e proporcionando maior sensação de saciedade mesmo com a ingestão de menores volumes de comida. Contudo, por mais benéficas que as “canetas emagrecedoras” sejam, o uso indiscriminado também apresenta riscos.
Risco do uso indiscriminado
À primeira vista, os efeitos negativos do uso dessa medicação injetável sem acompanhamento médico podem parecer corriqueiros. O endocrinologista Guilherme Borges esclarece que podem surgir náuseas, intestino preso ou mesmo diarreia. Em casos mais raros, também pode ocorrer um quadro de hipoglicemia.
Contudo, o especialista reforça que, diante do uso recreativo por pessoas que buscam um auxílio para melhorar a composição corporal, a medicação coloca a autonomia futura da pessoa em risco. Isso porque em um indivíduo que não tem sobrepeso ou obesidade, o tratamento com semaglutida injetável pode levar a uma perda de peso às custas de massa muscular.
Como Guilherme destaca, esse é um efeito muito desinteressante a longo prazo. Isso porque o músculo é algo que precisa ser preservado na maior parte dos pacientes que estão em processo de emagrecimento justamente por se relacionar com a sua autonomia, sua capacidade de exercer atividades de vida diária, com a redução do risco de queda no envelhecimento e também com o emagrecimento.
Outro efeito negativo preocupante é o desequilíbrio entre massa magra e gordura. “Se você perde peso a qualquer custo, inclusive perdendo massa muscular, você também reduz o seu metabolismo já que o músculo está diretamente relacionado com a capacidade de gasto de energia ao longo do dia. Lá na frente, isso pode até ser prejudicial no sentido de favorecer o reganho de peso. Isso vai gerar um desbalanço ainda maior entre gordura e músculo, ocasionando uma maior desproporção, ou seja, mais gordura e menos músculo”, conclui.
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