* Henrique Alckmin Prudente
Uma das mais impactantes encíclicas papais dos tempos modernos, a Laudato Si’, lançada em 2015 pelo Papa Francisco, propõe uma profunda reflexão sobre a crise ambiental e os desafios sociais que a humanidade enfrenta.
Inspirada no espírito de São Francisco de Assis, a encíclica nos convida a cuidar da Terra como nossa “Casa Comum”, reconhecendo que tudo está interligado: o meio ambiente, a cultura, a economia, e, sobretudo, a pessoa humana.
O uso e a ocupação do solo, assim como os recursos hídricos, são temas centrais, pois refletem diretamente como escolhemos viver em relação à natureza e ao próximo.
O Papa Francisco nos lembra que o desenvolvimento sustentável deve ser construído sobre dois pilares inseparáveis: o respeito por todas as formas de vida, vistas como manifestações do amor de Deus, e a promoção da dignidade humana.
Utilizar recursos naturais como a água e o solo com responsabilidade é, portanto, um ato de amor, justiça e fé.
Ao longo da história recente, outros papas também trataram da relação entre sociedade, natureza e espiritualidade. A Pacem in Terris (1963), do Papa João XXIII, dirigia-se a todas as pessoas de boa vontade, reforçando a paz como tarefa comum.
A Redemptor Hominis (1979), encíclica de São João Paulo II, alerta que o progresso material sem uma base ética pode gerar desequilíbrios sociais e ambientais.
O Papa Francisco, portanto, retoma e aprofunda essa tradição da Igreja de Roma, enfatizando que não existe separação entre a crise ambiental e a crise social.
No capítulo inicial da encíclica: “O que está acontecendo com a nossa casa?”, o Papa Francisco nos chama à contemplação do estado atual do planeta, denunciando a degradação ambiental, a destruição de ecossistemas e a crescente desigualdade social.
A crise ecológica é também uma crise social, pois afeta principalmente os mais pobres e vulneráveis, que muitas vezes vivem em áreas degradadas, sem saneamento e sem acesso à terra de maneira justa.
A resposta a essa crise passa por uma ecologia integral. Essa abordagem amplia o conceito tradicional de ecologia ao incluir não apenas a natureza, mas também as dimensões cultural, econômica e social da vida.
Outro ponto de destaque na encíclica Laudato Si’ é a defesa da água como um direito fundamental.
No documento, Papa Francisco denuncia a exploração irresponsável desse recurso e clama pela universalização do acesso à água potável.
O uso do solo precisa considerar a preservação dos mananciais, a gestão sustentável dos recursos hídricos e a proteção das populações que dependem diretamente da terra e da água para sobreviver.
Ademais é importante que se estabeleça o compromisso do Poder Público com a legislação de incidência territorial, de forma a ocupar o solo e a gerenciar os recursos hídricos com responsabilidade e em sintonia, tanto em relação ao ambiente como em relação à qualidade de vida; neste contexto são instrumentos efetivos de planejamento territorial: plano diretor, lei de uso e ocupação do solo, lei de parcelamento, lei de zoneamento, planos de gestão de recursos hídricos, planos de manejo de unidades de conservação, entre outros.
Municípios brasileiros, em especial os localizados em regiões de incidência de chuvas, no domínio de climas úmidos como o equatorial e o tropical, exigem olhar atento, sobretudo dos respectivos gestores públicos, para que haja atuação de forma responsável quanto ao uso e ocupação do solo, com preocupação em áreas de encostas, considerando as características ambientais e climáticas de cada região.
Nós todos somos chamados a adotar uma vida mais simples, o que inclui repensar as formas de expansão das cidades, combatendo a urbanização desenfreada e a ocupação de áreas de risco, o desmatamento e a especulação imobiliária, fatores que excluem e fragilizam sobretudo os mais pobres.
O cuidado com o planeta Terra exige o cuidado imperioso com a pessoa humana!
* Henrique Alckmin Prudente é Doutor em Ciências pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e atual Diretor Acadêmico da Faculdade Canção Nova, onde também leciona a disciplina Educação Ambiental pelo Curso de Teologia.—
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