O etarismo existe e é praticado há anos, muito antes da postagem infeliz das jovens da UniSagrado

O etarismo existe e é praticado há anos, muito antes da postagem infeliz das jovens da UniSagrado

24 de março de 2023 Off Por Ray Santos
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Apesar de todos os pesares, esta postagem descabida teve o mérito de suscitar (ressuscitar?) a discussão sobre o etarismo, um preconceito antigo, mas ainda muito praticado, de maneira sempre sutil, no mercado de trabalho, contra aqueles grisalhos com mais de 40 anos! 

Por João Fortunato *

A infeliz brincadeira, baseada em preconceitos e ignorância, de três jovens estudantes do curso de Biomedicina da UniSagrado, da cidade de Bauru, que teve como alvo de suas chacotas – postadas em redes sociais – uma colega de classe na faixa dos 40 anos de idade, apesar de tudo de ruim que possa embalar esta estupidez, teve sim um mérito: o de ampliar a discussão sobre o etarismo.

O preconceito com os “jovens veteranos de cabelos brancos” começa mesmo nesta faixa de idade, aos 40 anos. Não é novo e nem foi inaugurado por estas garotas recém-saídas da adolescência. Existe há tempos e é praticado rotineiramente em diferentes setores da sociedade, porém, é acentuado no mercado de trabalho. Nele, o etarismo, como é denominado este tipo de preconceito, é driblado de forma tão sutil que fica até difícil de ser comprovado.

Se algum leitor jovem discorda, basta então perguntar para qualquer “quarentão ou quarentona”, com grisalhos aparentes ou, então, esperar chegar aos quarenta anos de idade para, num “experimento pessoal”, sair em busca de emprego. E de antemão fica o alerta: não importa a qualidade do seu currículo, a desculpa corporativa será a de sempre, de que a vaga foi preenchida por outro candidato mais adequado ao perfil exigido para o posto. E não se deixe abater pela primeira negativa, ou melhor, percepção de que a sua idade e seus cabelos brancos, apesar do seu vigor físico e mental, além da sua experiência e currículo de peso, se tornaram uma barreira na busca de trabalho. Mantenha a espinha ereta, a cabeça erguida e siga em frente, com altivez, até que uma empresa livre deste tipo de preconceito lhe abra a porta.

Interessante observar que após o caso das “meninas da UniSagrado” vir à tona, uma corrente de indignação e solidariedade se formou nas redes sociais. Parece até que foi um susto, um achado, algo inusitado, que a sociedade até então desconhecia. Nem uma coisa nem outra. O que essa indignação revela, em boa parte, é a hipocrisia, pois a estupefação foi manifestada também por aqueles que praticam o etarismo em suas empresas, porém, lá o fazem de maneira sutil, sem que possa ser tipificado. Nas plataformas profissionais ele salta aos olhos!    

A postura das empresas merece ser avaliada. Muitas dizem acompanhar os avanços da sociedade, que são apoiadoras e praticantes do ESG, porém, esquecem de acrescentar que tanto este o apoio como a sua pratica, em muitos casos, se restringem aos discursos públicos. Intramuros, a realidade é distinta: vale a máxima das meninas da UniSagrado.  

O sistema de previdência social no Brasil foi recentemente alterado para aliviar o caixa do governo porque aumentou a expectativa de vida dos brasileiros. Eles agora vivem mais, por isso podem e devem seguir trabalhando. Ou seja, para se aposentar devem trabalhar por mais tempo. E como isso pode acontecer se o início do seu final de labuta começa aos 40 anos de idade? Quando o universo corporativo vai se adequar de fato, não somente no discurso, a esta nova realidade?  

Contratar um indivíduo com 40 anos ou mais é levar dois em um. Nele estão incorporadas a experiência profissional e de vida. Imaginem o que ele pode oferecer para qualquer empresa, orientar e ensinar atalhos mais eficazes para os mais jovens, por exemplo. Quem contrata um jovem “de cabeça branca” nunca se arrepende.

Por estas e outras tantas razões, urge que se dê fim ao etarismo. Além do que, não se pode esquecer, jamais, que todos passam pelos 40 e se nada for feito até que completem esta idade, possivelmente sofrerão os mesmos e lamentáveis problemas. Inclusive as jovens estudantes da UniSagrado, ainda que pelo mau exemplo, suscitaram essa boa discussão. 

João Fortunato * é jornalista e coordenador da Brand Security – Comunicação Estratégica de Crise. É professor e mestre em comunicação e Cultura Midiática.

Por Erick Santos


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