Algumas mudanças sazonais, principalmente a exposição à luz solar e aumento da temperatura influenciam bastante a produção de hormônios, explica a especialista em endocrinologia, metabologia e neurociências, Dra. Jacy Maria Alves
Com a chegada do inverno, não é apenas a temperatura que muda, o funcionamento do corpo humano também é afetado com a redução da luz solar e o aumento das horas em ambientes fechados.
Essas alterações sazonais afetam diretamente a produção hormonal, influenciando o humor, o apetite, o sono e até o metabolismo.
De acordo com a especialista em endocrinologia, metabologia e neurociências, Dra. Jacy Maria Alves, o clima frio é um gatilho de algumas mudanças.
“O inverno desencadeia respostas biológicas importantes, e o principal gatilho dessas mudanças é a menor exposição à luz natural, que afeta o ciclo circadiano e a liberação de diversos hormônios essenciais para o equilíbrio do organismo”.
“O corpo precisa se adaptar constantemente, e isso exige ajustes metabólicos que envolvem hormônios como cortisol, tireoidianos e até melatonina. Essas mudanças podem influenciar o sono, o humor, o apetite e a disposição”, alerta Dra. Jacy Alves.
Evidências demonstram que, no inverno, ocorre uma diminuição significativa do “turnover” de serotonina no cérebro, correlacionando-se com a menor duração da luz solar diária; quanto maior a luminosidade, maior a produção cerebral de serotonina.
Hormônios em alerta
Um dos hormônios mais afetados é a melatonina, substância responsável pela regulação do sono. Em dias mais curtos e com menos luminosidade, a produção de melatonina tende a aumentar, o que pode gerar maior sonolência e uma sensação prolongada de cansaço.
Outro hormônio que sofre influência do clima frio é a serotonina, conhecido como o “hormônio do bem-estar”.
A baixa exposição ao sol reduz a síntese natural desse neurotransmissor, podendo provocar variações de humor, maior irritabilidade e até quadros de depressão sazonal, conhecidos como SAD (Seasonal Affective Disorder).
“Além disso, o frio também pode aumentar os níveis de cortisol, principalmente em pessoas que têm dificuldade para se adaptar ao ritmo mais lento da estação ou sentem-se mais ansiosas em ambientes fechados”, explica Dra. Jacy Alves.
A exposição ao frio, especialmente em situações agudas ou prolongadas, eleva os níveis de cortisol, noradrenalina e adrenalina, desencadeando respostas como taquicardia, vasoconstrição e aumento do metabolismo.
Em humanos e animais, o frio crônico pode afetar regiões cerebrais ligadas ao humor, aumentando marcadores inflamatórios e sintomas ansioso-depressivos. Indivíduos mais sensíveis ao inverno podem apresentar maior ativação do eixo HPA, com impactos no sono e no bem-estar.
Fatores como isolamento e alterações do ritmo circadiano potencializam esses efeitos.
Efeitos metabólicos e alimentares
A endocrinologista também destaca que o inverno interfere no metabolismo e no apetite, principalmente pelas mudanças na rotina que ele causa.
“O corpo tende a gastar mais energia para manter a temperatura corporal, e isso pode estimular a vontade de comer mais, principalmente alimentos calóricos e ricos em carboidratos”, explica Dra. Jacy.
“Essa resposta é natural, mas precisa ser controlada para evitar ganho de peso e desequilíbrios metabólicos”.
Como manter o equilíbrio hormonal no frio
Apesar das influências do clima, é possível amenizar os efeitos do inverno com cuidados simples, como manter uma boa rotina de sono, praticar atividade física regular, buscar a luz solar sempre que possível e manter uma alimentação rica em triptofano, presente em alimentos como banana, ovos, leite e castanhas, que auxilia na produção de serotonina.
“Mais do que outra coisa, o inverno é um convite ao autocuidado e entender o impacto do clima no seu corpo é uma forma inteligente de preservar a saúde física e emocional ao longo da estação, tudo é cíclico e entender isso é importante”, conclui a Dra. Jacy Alves.
Sobre a Dra. Jacy Alves
Dra. Jacy Maria Alves é médica formada pela UFSC, com residências em Medicina Interna e Endocrinologia.
É especialista em Endocrinologia pela SBEM, mestre em Medicina Interna focada em Diabetes pela UFPR, e certificada em Medicina do Estilo de Vida e Obesity Medicine pela Harvard.
Trabalha como endocrinologista em consultório particular desde 2014, no Lapinha Spa desde 2022, e foi pesquisadora na Clínica Quanta até 2022. Também atua no INC desde 2016 e é professora na MevBrasil.
Recebeu prêmios como 1º lugar em medicina na UFSC e em concursos de residência. Publicou artigos científicos e o livro “Revolução Alimentar” em 2024.
Atualmente, está em pós-graduação em Neurociências na PUC-RS e em curso de Cuisine Santé.
É membro de diversas sociedades médicas.
Fotos: Divulgação


