Os efeitos colaterais do isolamento social durante a pandemia
23 de abril de 2021Pesquisas indicam aumento considerável no consumo de cigarros e sedativos em 2020
O coronavírus não tem sido uma doença que afeta apenas os infectados com o vírus. Desde que a pandemia estourou em 2020, são muitas as consequências econômicas e psicológicas que a necessidade de isolamento social e imersão no mundo digital gerou. A brusca alteração na rotina de milhares de pessoas, a perda de empregos com o fechamento das empresas e o falecimento de pessoas próximas fizeram com que muito da saúde mental fosse exigido para conter os impactos.
Uma pesquisa feita pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou que pessoas que já alimentavam o vício em cigarros (o que pode ser um sintoma de ansiedade ou mesmo depressão) aumentaram o consumo de cigarros por dia. Dentre os mais de 40 mil brasileiros entrevistados, 35% afirmaram que estão fumando mais desde o começo da pandemia. Cerca de 6% dessas pessoas aumentaram o consumo em até cinco cigarros por dia, ao passo que 22,8% afirmaram fumar mais de dez por dia. Aproximadamente, 5% confessaram fumar mais de 20 cigarros por dia.
Segundo a Dra. Lívia Salomé, vice-presidente do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida e especialista nesta área, a situação pandêmica é “solo fértil” para quem já apresenta tendência ao tabagismo. Com o isolamento social, sem a possibilidade de ver pessoas queridas ou sair para trabalhar, muitas pessoas iniciaram um ciclo vicioso entre a ansiedade, a depressão e a insônia. Isso pode ser um efeito do alto consumo de cigarros, da mesma maneira que pode ser o gatilho para o alto consumo de cigarros.
Outros números preocupantes são os que indicam o consumo de alucinógenos e de sedativos no Brasil durante 2020: cresceu em 50% o número de brasileiros que consumiram sedativos em excesso, ao passo que o consumo de alucinógenos aumentou em 54%. Os dados são do Ministério da Saúde e fazem uma análise de março a junho de 2020, em comparação ao mesmo período no ano anterior (2019).
A ansiedade generalizada é um dos principais motivos para que as pessoas recorram a drogas lícitas e/ou ilícitas para aliviar a angústia e o desespero do momento recheado de incertezas que vivenciamos. Por isso, é muito importante que, aos primeiros sinais de ansiedade e depressão, um psicólogo deve ser consultado para fazer o correto diagnóstico. Com acompanhamento médico, a tensão e a ansiedade poderão ser aos poucos controladas pelo paciente, fazendo com que o consumo de drogas também diminua. Buscar ajuda profissional não é sinal de fraqueza – pelo contrário, é sinal de força para cuidar de si.
Por Luisa Pereira