Podologia no SUS: uma questão de saúde

Estima-se que, a cada hora, duas pessoas são amputadas no Brasil. A prática da podologia busca prevenir e tratar essas complicações

Segundo a Associação Brasileira de Podólogos (ABP), a cada hora, duas amputações são realizadas no Brasil, muitas delas devido ao diabetes, uma doença que pode afetar severamente os pés. No entanto, a prevenção e o tratamento adequado por profissionais da podologia podem evitar boa parte dessas amputações. É essa a urgência que o Professor Armando Bega, especialista com mais de 30 anos de dedicação à área, destaca como fundamental para o Sistema Único de Saúde (SUS).

“A inclusão da podologia no SUS não é apenas uma necessidade, é uma urgência. Estamos falando de uma especialidade que pode transformar vidas, devolvendo mobilidade, independência e bem-estar àqueles que mais precisam”, afirma Bega. O professor, que foi pioneiro na implantação do curso superior de podologia no Brasil, presenciou ao longo de sua carreira o impacto devastador da falta de tratamentos especializados, especialmente entre a população idosa e diabética.

O diabetes é uma das principais causas de amputações no país, e os números são alarmantes. Segundo o Censo 2022 do IBGE, a população brasileira totaliza 203.080.756 pessoas, das quais cerca de 20 milhões são diabéticas. Em São Paulo, os índices são igualmente preocupantes: 1,1 milhão de cidadãos paulistanos com diabetes mellitus foram acompanhados nos últimos quatro anos nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da cidade, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

A neuropatia diabética e a má circulação são os principais fatores que tornam os pés dos diabéticos mais vulneráveis. A neuropatia causa danos aos nervos, levando à perda de sensibilidade nos pés, o que dificulta a percepção de ferimentos. A má circulação, por sua vez, reduz o fluxo sanguíneo para os pés, dificultando a cicatrização de feridas e aumentando o risco de infecções graves. Essas complicações podem resultar em úlceras, lesões, feridas e, em casos extremos, amputações.

Para Armando Bega, a integração da podologia no SUS é crucial para um sistema de saúde mais inclusivo e eficaz, além de reduzir drasticamente o número de amputações e diminuir as internações hospitalares e seus custos associados. Segundo ele, uma consulta podológica particular pode variar de R$120 a R$300, o que impede que pessoas de baixa renda consigam realizar esse tipo de tratamento.

“Além do valor, há ainda uma crença de que podologia é uma área da estética, algo para embelezar os pés. É uma ideia totalmente equivocada, uma vez que lidamos com diversas doenças. Por isso a inserção dessa prática nas UBSs e hospitais se faz tão necessária, para amparar essa população que sofre com problemas nos pés e não pode procurar um consultório particular”, explica o professor.

Bega defende ainda a ampliação do sistema de saúde com a integração de novas práticas. Como enfermeiro e professor, ele acredita que a prevenção continua sendo o melhor remédio. “Acredito que a ampliação do sistema de saúde, aliada à integração de novas práticas e terapias, como a podologia, é a chave para garantir uma saúde de qualidade à população. É preciso modernizar a forma de atendimento e tratamento das doenças, especialmente aquelas relacionadas aos pés, das quais ainda são muito negligenciadas”, conclui.

Professor Armando Bega – Professor Armando Bega é enfermeiro, mestre e professor de Podologia, reconhecido internacionalmente por seu trabalho na saúde dos pés, especialmente no tratamento do pé diabético. Ele luta pela regulamentação da profissão e visa integrar a podologia ao SUS para garantir acesso gratuito e de qualidade a toda a população. Neste ano, Bega é candidato a vereador em São Paulo, defendendo pautas como o acesso gratuito à podologia, cursos profissionalizantes na área de saúde, mais atenção e cuidados especiais para diabéticos e idosos, além de uma linha de crédito especial para podólogos e profissionais de beleza e bem-estar.

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