Sem pílula mágica: endocrinologista explica que terapia hormonal feminina vai além da testosterona

Sem pílula mágica: endocrinologista explica que terapia hormonal feminina vai além da testosterona

13 de março de 2023 Off Por Ray Santos
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Segundo o médico Guilherme Borges, o organismo feminino é complexo e o acompanhamento com especialista não pode se limitar à banalização do uso de hormônios masculinos

A busca por soluções fáceis para problemas do corpo continua e uma delas tem sido o uso de testosterona por mulheres para resolver desde a insatisfação com as medidas até a falta de desejo sexual. Com a procura elevada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) identificou a circulação de medicações falsas no mercado para a reposição do hormônio. Diante disso, o médico endocrinologista Guilherme Borges aproveita o mês de março, marcado pelo Dia Internacional da Mulher, para reforçar que não existe pílula mágica.

“O organismo feminino de fato é complexo. Desde o desenvolvimento puberal, início das menstruações, ciclos menstruais na fase reprodutiva e climatério. Esse último, que gira em torno da menopausa, é o momento que mais afeta potencialmente a qualidade de vida das mulheres por volta dos 50 anos”, pontua.

Terapia hormonal além da testosterona

De acordo com o especialista, é na menopausa que as mulheres mais se beneficiam da terapia hormonal e é comum que elas cheguem ao consultório em busca de uma solução única para os vários problemas que podem surgir.

“Além dos calorões, pode ocorrer o ressecamento vaginal, a alteração de composição corporal com aumento de gordura visceral, alteração de sono, de humor que pode deixar a mulher mais irritada, mais deprimida e até mesmo mais ansiosa. Também observamos uma redução de libido muitas vezes presente nessas mulheres em maior ou menor grau. Isso é algo que se reflete em prejuízo nas relações afetivas que elas mantêm ou estão desenvolvendo nessa fase da vida, por tudo isso é uma fase muito delicada”, argumenta.

Ainda assim, apesar de a testosterona ter se tornado popular a ponto de medicações falsas chegarem ao mercado, o endocrinologista explica que ela não é o foco inicial da terapia hormonal feminina.

“É importante ressaltar que o primeiro hormônio que vamos propor para essas mulheres é o próprio estradiol, hormônio que elas produziam na fase reprodutiva. A partir da menopausa, o endocrinologista tem uma atuação significativa porque as mulheres que têm insuficiência ovariana, que é essa diminuição drástica da produção de estradiol, se beneficiam da terapia hormonal. Contudo também é importante verificarmos se não há contraindicação”, explica.

Devolvendo a qualidade de vida

Antes de tudo, o médico ressalta que embora a terapia hormonal tenha o objetivo de restaurar a qualidade de vida da mulher amenizando e até dando fim a boa parte desses sintomas que surgem com o avanço da idade, não existe uma solução simples. “Se essa mulher não tem o hábito de se exercitar com frequência ou de se preocupar com a alimentação, ela provavelmente não vai usufruir dos melhores resultados ou não vai ter a melhora que ela espera”, completa.

Indo além, o endocrinologista Guilherme Borges avalia que atualmente ocorre uma banalização da testosterona e sua utilização nos mais diversos contextos, incluindo a menopausa. Como ele esclarece, a própria libido nessa etapa da vida da mulher está mais relacionada aos índices de estradiol, mas a reposição desse hormônio normalmente produzido pelo organismo feminino também tem mais benefícios.

“Às vezes, médicos e outros profissionais de saúde dão mais importância para a reposição androgênica de testosterona e seus derivados do que para o próprio estradiol, que é o mais importante. Temos várias evidências de benefícios não só relacionados à melhora de todos os sintomas que já comentei, mas também de melhora de colesterol, de prevenção de perda de massa óssea com osteopenia e osteoporose e até melhora da saúde mental”, afirma.

Testosterona em hipótese alguma?

Por fim, o especialista esclarece que a testosterona também pode ser utilizada na terapia hormonal feminina para reverter quadros que persistem mesmo depois que os níveis de estradiol estão controlados. É o caso de mulheres que permanecem com desejo sexual hipoativo, no entanto, ele reforça que antes devem ser excluídas condições psiquiátricas como transtornos de ansiedade, depressão e mesma a utilização de medicações para esses problemas, que podem ter influência. “Excluindo tudo isso, a gente pode fazer uma tentativa com o gel de testosterona em doses bastante diminuídas, afinal são doses femininas diferentes das masculinas que temos no mercado”, conclui.

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