Uma cultivar de soja muito amiga das abelhas

Uma cultivar de soja muito amiga das abelhas

9 de março de 2023 Off Por Ray Santos
Compartilhar

Por, Décio Luiz Gazzoni, Carlos Alberto Arrabal Arias e Clara Beatriz Hoffmann Campo***

            Ao longo das últimas décadas, com a intensa expansão da área, as lavouras de soja chegaram cada vez mais perto dos apiários fixos. Ao mesmo tempo, os apicultores perceberam que a soja é um excelente pasto apícola, produzindo quantidades apreciáveis de néctar de alta qualidade. Por sua vez, os produtores de soja verificaram que a soja que se desenvolve próximo de apiários exibe produtividade mais alta em relação aos talhões afastados de apiários, ou de matas habitadas por abelhas silvestres.

            Em estudos realizados pela Embrapa foi comprovada tanto a qualidade do néctar da soja como alimento para as abelhas, quanto os incrementos de produtividade da soja cultivada próximo de apiários ou repositórios de abelhas. Nessa condição, as pesquisas da Embrapa mostraram ganhos médios de produtividade da soja de 13%.

            Em qualquer integração produtiva, sempre há regras a serem respeitadas, permitindo que a relação seja harmoniosa e promova benefícios mútuos. A integração entre apicultura e sojicultura não foge desse padrão de convivência. Portanto, boas práticas, tanto apícolas quanto agrícolas, precisam ser respeitadas por apicultores e sojicultores. A Embrapa está desenvolvendo estudos para descrever e validar as boas práticas de criação de abelhas e de cultivo da soja, para uma integração harmoniosa entre essas atividades.

            Um dos aspectos com maior potencial para disromper a harmonia entre apicultura e sojicultura são as medidas fitossanitárias. Se não houver estrita observância das recomendações do MIPSoja e da tecnologia de aplicação de pesticidas, podem ocorrer acidentes, como intoxicação e até mortalidade de abelhas.

Soja mais amigável

            As abelhas visitam a soja apenas quando existem flores nas plantas. Logo, o risco de uma intoxicação por aplicação de pesticida se restringe aos dias imediatamente anteriores ao início do florescimento e o período durante o qual as flores estão presentes nas plantas. Nesse período, as aplicações para o controle de percevejos não são necessárias, pois estes se alimentam apenas nas vagens, portanto não são recomendadas como boa prática.

            Assim, se for utilizada uma cultivar de soja resistente às lagartas desfolhadoras e tolerante a percevejos fitófagos, a probabilidade de ser necessária uma aplicação de inseticidas, enquanto as abelhas estiverem visitando a soja é próxima a zero e, consequentemente reduz a um mínimo a probabilidade de efeitos colaterais nas abelhas. Ou seja, o risco de intoxicação de abelhas por pesticidas é muito reduzido, apenas seguindo as recomendações do MIPSoja, associada a uma cultivar de menor susceptibilidade às pragas.

            Existe uma cultivar de soja, denominada BRS 1003 IPRO, desenvolvida pela Embrapa Soja, que se encaixa nesta condição de menor necessidade de inseticidas, por ser resistente às principais lagartas desfolhadoras e também mais tolerante aos danos de percevejos por ser portadora das tecnologia Intactaâ e Blockâ, respectivamente. Essa cultivar permite a semeadura antecipada que além de viabilizar a safrinha com outras culturas, facilita o manejo das pragas. Por apresentar essas tecnologias e características a BRS 1003 IPRO, resguarda os inimigos naturais tanto no período vegetativo quanto na fase reprodutiva da soja. Mesmo que seja necessária uma aplicação para controle de percevejos, esta deverá acontecer após o período de floração da soja, reduzindo o risco de exposição das abelhas às pulverizações com inseticidas.

            Portanto, trata-se de uma cultivar de soja muito amiga das abelhas, e também dos sojicultores. Produz néctar de qualidade, reduz ou até dispensa o uso de pesticidas, é favorecida pela polinização suplementar realizada pelas abelhas, pois a visita das abelhas pode aumentar até mais do que a produtividade de 6.400 kg/ha, obtida pela BRS 1003 IPRO nos estudos da Embrapa, em Ventania, no Paraná.

            A BRS 1003 IPRO também é resistente ao herbicida glifosato (tecnologia RR2), apresenta ampla adaptação e estabilidade de produção com alta performance produtiva, inclusive em áreas com a presença do nematoide de galhas Meloidogyne javanica, ao qual a cultivar é moderadamente resistente. É classificada nos grupos de maturidade relativa 6.3 e 7.0, com recomendação de cultivo em diversas regiões edafoclimática do Brasil, como os estados de SC, PR, sul de SP e do MS (6.3), norte de SP, além de MS, GO e MG, e Sudoeste do MT (7.0).

            Para obter mais informações, siga o link https://www.embrapa.br/soja/intacta/brs1003ipro ou consulte a Embrapa Soja.

Os autores são pesquisadores da Embrapa Soja. D. L. Gazzoni é membro do Conselho Científico da A.B.E.L.H.A. e do Conselho Agro Sustentável.

Sobre o CCAS
O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.
O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.  
Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.
A agricultura, por sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. Não podemos deixar de lembrar que a evolução da civilização só foi possível devido à agricultura. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa, assim como a larga experiência dos agricultores, seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça.

Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/.

Acompanhe também o CCAS nas redes sociais:
Facebook: http://www.facebook.com/agriculturasustentavel
Instagram: https://www.instagram.com/conselhoccas/
LinkedIn: https://www.linkedin.com/company/ccas-conselho-cient%C3%ADfico-agro-sustent%C3%A1vel/

Alfapress Com,.


Compartilhar