90% das mortes por desastres naturais ocorreram em países em desenvolvimento
15 de setembro de 2023Relatório “Unidos pela Ciência” revela que falta de ação climática coloca em risco metas globais em diversos outros setores; documento reforça papel da ciência na mitigação e adaptação para eventos extremos; 670 milhões de pessoas poderão passar fome em 2030, em parte devido a fenômenos ligados ao clima.
A falta de ação climática coloca em risco metas globais para combater a fome, a pobreza e os problemas de saúde, melhorar o acesso à água potável e à energia.
Essa é a mensagem do relatório Unidos pela Ciência, divulgado nesta quinta-feira por 18 agências da ONU e parceiros.
Apenas 15% das metas no rumo certo
O documento reforça a importância da ciência para garantir segurança alimentar e hídrica, energia limpa, melhor saúde, oceanos sustentáveis e cidades resilientes.
Segundo o texto, apenas 15% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, estão no caminho certo.
No prefácio, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirma que “a ciência é um elemento central das soluções” e pode turbinar o progresso em direção a todos os ODS.
De acordo com o relatório, as emissões de CO2 de combustíveis fósseis aumentaram 1% em 2022 em comparação com 2021 e as concentrações atmosféricas globais de CO 2 continuam crescendo.
Era de extremos
Os anos de 2015 a 2022 foram os oito mais quentes já registrados.
Os autores do estudo afirmam ainda que 2023 está sendo um ano de extremos, com ondas de calor excepcionais, incêndios florestais arrasadores, chuvas torrenciais e ciclones tropicais de alto impacto.
Julho de 2023 foi o mês mais quente já registado e as temperaturas médias globais da superfície do mar atingiram níveis recordes.
No ritmo atual, o aquecimento global será de 2,8 °C ao longo deste século, em comparação com os níveis pré-industriais. A meta defendida pelos especialistas é limitar este aumento a apenas 1,5°C.
Sofrimento desproporcional
O relatório ressalta que os impactos das condições meteorológicas extremas e das mudanças climáticas afetam desproporcionalmente as comunidades vulneráveis.
Entre 1970 e 2021, ocorreram 11.778 desastres atribuídos a extremos meteorológicos, climáticos e hídricos, causando mais de 2 milhões de mortes e 4,3 biliões de dólares em perdas econômicas.
Mais de 90% destes óbitos e 60% das perdas econômicas ocorreram nos países em desenvolvimento.
Os autores do levantamento estimam que quase 670 milhões de pessoas poderão passar fome em 2030, em parte devido a fenômenos meteorológicos extremos mais frequentes e intensos.
As alterações climáticas também podem aumentar significativamente os problemas de saúde e as mortes prematuras, bem como a exposição da população às ondas de calor.
Papel decisivo da ciência
Por outro lado, a ciência pode ter um papel decisivo na adaptação a esses desafios.
As previsões climáticas podem aumentar a resiliência do sistema alimentar, apoiando o planejamento agrícola e a tomada de decisões.
Os sistemas de alerta sanitário sobre o calor que utilizam previsões meteorológicas e climáticas podem informar intervenções de saúde pública.
A modelização hidrológica e climática melhora a compreensão de como as alterações climáticas afetarão a disponibilidade de água
E os dados sobre os padrões de precipitação, volume dos rios, níveis das águas subterrâneas, qualidade da água e os ecossistemas aquáticos também podem ser fundamentais.
Eles servirão para identificar poluentes, avaliar os níveis de contaminação e determinar riscos potenciais para a saúde humana e o ambiente.
ONU