A academia e empresas avançam em soluções à base de biocombustível
25 de outubro de 2024· Painel BIOEN Mobility da BBEST – IEA Bioenergy Conference apresentou pesquisas que focam na adoção de misturas de biocombustíveis em motores a diesel, assim como em motores a etanol em veículos agrícolas pesados;
· Outros estudos indicam melhorarias do processo de ignição automotiva a biocombustíveis e propõem a substituição de importações de equipamentos para o refino de biocombustíveis.
São Paulo, 25 de outubro de 2024 – “Sabemos que o etanol é melhor que os combustíveis fósseis, não apenas do ponto de vista de emissões, de poluição ambiental, mas, principalmente, pelo seu desempenho”, afirmou Luiz Augusto Horta Nogueira, professor da Unifei e moderador do painel BION Mobility, durante o segundo dia do BBEST & IEA Bioenergy Conference, evento realizado em São Paulo (encerrado ontem) para debater o papel da bioenergia na transição energética.
Durante o painel sobre mobilidade e biocombustíveis, foram ressaltadas inovações técnicas para melhorar o processo de combustão e de misturas (blends) de biocombustíveis em motores a diesel usados em veículos pesados – como tratores, caminhões e ônibus. “Com a nova realidade dos preços, cresceu o interesse no uso de etanol em motores diesel de veículos pesados”, ressaltou Horta.
Painelistas lembraram que o Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2023, o país bateu recorde na produção com 35,4 bilhões de litros e as projeções indicam que a oferta de etanol, considerando a cana de açúcar (primeira e segunda geração) e o milho, pode chegar a 48 bilhões de litros até 2034.
Clayton Zabeu, professor e pesquisador do Instituto Mauá compartilhou detalhes de novos desenvolvimentos e tendências para uso de etanol, como um dos combustíveis renováveis para uso em motores pesados utilizados na agricultura (os quais, normalmente, usam combustível fóssil). Ele deu como exemplo a John Deere, uma empresa global de tecnologia que fornece software e equipamentos para os setores agrícola, de construção e florestal: a companhia anunciou no final do ano passado o desenvolvimento de um motor a etanol de 9 litros para máquinas agrícolas, como tratores e colheitadeiras.
Descarbonização via tecnologia
“Tecnologias que há 20 anos não eram viáveis, por limitações em processos fabris e tecnológicos, tornaram-se possíveis com os novos processos e a eletrônica embarcada e se tornaram aliadas à tendência da descarbonização”, comentou o professor do Instituto Mauá.
Ronaldo Domingues Mansano, do Departamento do Engenharia Elétrica da Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), chamou a atenção às novas metodologias para melhorar a ignição automotiva visando melhor eficiência dos motores atuais que rodam a biocombustíveis. “Estamos desenvolvendo técnicas para melhorar essa eficiência do equipamento entre 10% e 15%. Além disso, os subprodutos dos biocombustíveis são menos agressivos ao meio ambiente”, relatou Mansano.
Outro estudo, também em desenvolvimento na Poli/USP, está sendo conduzido pelo professor e pesquisador de Mecânica, Guenther Carlos Krieger Filho. Ele explicou que as montadoras utilizam o mesmo motor desenvolvido para gasolina para o etanol. “Em uma pesquisa sobre a combustão do etanol quisemos demonstrar que um motor desenvolvido para etanol pode ter mais vantagens do que um motor que está apenas rodando “com” etanol (mas que originalmente foi feito para gasolina).”, disse. Krieger acrescentou que, assim como acontece hoje com veículos flex, a ideia é que o motor para etanol também permita que o usuário coloque gasolina.
Vantagens comprovadas
“Já, o melhor caminho para a mobilidade sustentável é a combinação do uso de biocombustíveis com tecnologias automotivas, como o híbrido flex”, defende Roberto Braun, diretor de Comunicação da Toyota do Brasil. Segundo ele, as políticas públicas adotadas nos últimos anos permitiram que o Brasil chegasse à condição de hoje, de ser um dos maiores protagonistas globais no uso de biocombustíveis como uma solução para descarbonização da mobilidade do transporte.
Braun destacou que a Toyota trouxe o híbrido flex para o Brasil em 2019 e que o veículo representa um marco na indústria automobilística, combinando a eficiência dos motores híbridos com a versatilidade do etanol brasileiro. “Existe uma redução de 30% das emissões de poluentes, incluindo o CO2, e redução em 30% do consumo de combustível”, contou o diretor da Toyota.
Erwin Franieck, professor da Unicamp e diretor presidente da organização SAE 4Mobility, por sua vez, propôs um desafio para a indústria: desenvolver localmente os equipamentos para produzir biocombustíveis. “Mapeei mais de 300 plantas de álcool, umas 40 de biometano e umas 10 de biodiesel que vão entrar em série, em breve, tudo com equipamento importado”, afirmou.
Franieck, que é um dos fundadores da organização SAE 4Mobility, que tem entre seus objetivos promover o desenvolvimento de projetos conjuntos da academia e da indústria, também liderou o grupo que criou o Made In Brazil Integrado (MIBI) para analisar as demandas nacionais e criar grupos de trabalho para substituição de importações, desenvolvendo no Brasil equipamentos que ainda são importados. “A pedido do governo federal fizemos um grupo com a cadeia automotiva para produzir ventiladores pulmonares. Deu certo e, a partir daí, criamos o MiBi)”, contou.
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Sobre o IEA Bioenergia
Este é um programa de colaboração tecnológica da Agência Internacional de Energia dedicado a aumentar o alcance da bioenergia, desempenhando um papel importante na segurança energética e no uso sustentável da energia. Estabelece uma rede colaborativa entre países com programas nacionais centrados na investigação e utilização de bioenergia. Já o Task 39 (ou grupo de trabalho 39), uma das suas onze forças-tarefa, é responsável por examinar o potencial dos biocombustíveis como meio de descarbonizar o setor de transportes, o que é especialmente importante considerando que o setor responde hoje por parte significativa das emissões globais.
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Sobre a Conferência BBEST & IEA Bioenergy 2024
A Conferência BBEST – IEA Bioenergy 2024, aborda nesta edição “A bioenergia e os bioprodutos: Acelerando a transição em direção à sustentabilidade”. É organizada pelo Programa de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN/FAPESP), pelo Programa de Colaboração em Tecnologia de Bioenergia da Agência Internacional de Energia e pela Sociedade de Bioenergia (SBE). Tratará de temas como uso responsável da terra, produtividade agrícola e sustentabilidade, paisagens multifuncionais resilientes, tecnologia de colheita, logística e escala, desenvolvimento de biorrefinarias e bioprodutos e materiais avançados emergentes, biogás, bioeletricidade, biocombustíveis para transporte aéreo, marítimo e rodoviário, captura e sequestro de carbono, bem como a utilização de resíduos para produção de bioenergia e estratégias para a economia circular do carbono.
O evento ocorreu entre os dias 22 e 24 de outubro, em São Paulo (SP), no Hotel Renaissance. Seu programa pode ser conferido neste link.
Sobre o BIOEN
O BIOEN, Programa de Pesquisa em Bioenergia da FAPESP, visa articular pesquisa e desenvolvimento (P&D) entre entidades públicas e privadas, utilizando laboratórios acadêmicos e industriais para avançar e aplicar o conhecimento nas áreas relacionadas à bioenergia no Brasil. As pesquisas abrangem desde a produção e o processamento de biomassa até tecnologias de biocombustíveis, biorrefinarias, sustentabilidade e impactos. Para mais informações, acesse https://bioenfapesp.org
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