Campo Grande 123 anos: Indústria contou com desbravadores e hoje é protagonista do progresso

26 de agosto de 2022 Off Por Ray Santos
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A rústica tecnologia do carro de boi, estampada em monumento histórico no encontro dos córregos Prosa e Segredo, em frente ao Horto Florestal, representa os primórdios da indústria em Campo Grande. Hoje, completando 123 anos, a capital de Mato Grosso do Sul abriga empresas modernas e com grande potencial de investimento, sendo o segundo maior PIB Industrial do Estado.

Com atividades agrícolas, têxtil, siderúrgica, química e alimentícia, a capital responde por R$ 3,96 bilhões ou 19,3% do PIB Industrial total de Mato Grosso do Sul. Na economia local, a indústria representa 15% do PIB total do município.

Os dados refletem diretamente na qualidade de vida dos campo-grandenses, reconhecida como uma das melhores do país. E viver bem está diretamente ligado a oferta de emprego. De acordo com a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) 2020, último ano disponível, a cidade conta com 2.143 estabelecimentos industriais ativos com pelo menos um empregado formal.

A maior parte dos estabelecimentos, 1.110, são do ramo industrial da construção, 952 da transformação, 17 na indústria extrativa mineral e 64 nos serviços industriais de utilidade pública.

Conforme o Caged, até junho de 2022, a Capital abrigava 35.706 trabalhadores formais diretamente empregados nas atividades industriais, sendo 17.296 na transformação, 13.204 na construção, 5.145 nos serviços industriais de utilidade pública e 61 na indústria extrativa mineral.

Na capital, a indústria responde por 16,2% de todo o emprego com carteira assinada (CLT). O salário nominal médio pago nas atividades industriais em Campo Grande, segundo a RAIS 2020, é de R$ 2.515,00.

Produção somada a geração de emprego ajudam a construir a capital e a projetar sua economia nacionalmente. Só no último mês, a indústria foi responsável pela injeção de quase R$ 90 milhões na economia local por meio do pagamento de salários aos trabalhadores diretamente empregados.

Em 2021, o valor obtido com a exportação de produtos industriais produzidos em Campo Grande alcançou o equivalente a U$ 448,5 milhões. A indústria foi responsável por 88% de toda a receita obtida com exportação nesse período, com destaque para a carne bovina congelada ou refrigerada com US$ 279 milhões; couro bovino com US$ 35 milhões; preparações alimentícias não especificadas, com US$ 35 milhões; e tortas e farelos de soja, com US$ 34 milhões.

Trajetória da Capital e da indústria metal mecânica se uniram com olhar desbravador e corajoso

Por meio das lembranças do empresário Nilvo Della Senta, da ND Metal, é possível percorrer também o caminho de desenvolvimento da indústria de Campo Grande. Pode parecer pouco tempo, mas suas memórias comprovam a predominância da essência rural da Capital, em tempos recentes, cerca de três décadas atrás, e mostram um setor industrial em plena forma.

Pelas mãos do engenheiro mecânico, natural de Carazinho, no Rio Grande do Sul, passaram a evolução da própria tecnologia e um pouco da história da cidade traduzida em metal. Apesar de começar com o mercado agrícola, a ND Metal desenvolveu peças para antenas parabólicas, símbolo das telecomunicações e canal direto com a globalização; passando pelas balanças, essenciais para o desenvolvimento comercial da jovem capital; até chegar nas caixas de hidrômetros, reflexo da chegada do desenvolvimento com compromisso social ao levar água encanada para maior parte da população.

Nilvo Della Senta veio para Mato Grosso do Sul, em 1987, para trabalhar numa empresa de máquinas de armazenamento de grãos em Campo Grande. A crise na agricultura veio e, mesmo com diploma da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade de Passo Fundo, ele precisou retomar a função de torneiro mecânico para recomeçar. Na falta de indústrias de metal mecânica no Estado, ele viu uma oportunidade de se estabelecer e criou uma das primeiras empresas do ramo. “Aqui era um Estado e uma capital sem indústria metal mecânica. Resolvi começar uma atividade aqui do zero”, relembra.

No dia 25 de maio de 1993, mesma data em que é celebrada o Dia da Indústria, se deu o nascimento oficial da ND Metal. Ainda pequena, a empresa focou na prestação de serviços. O empresário sugeria e criava ferramentas para dar ganho as produções. “Naquela época, os modos de fabricação eram totalmente artesanais. Fomos os pioneiros nesse processo de melhorar a produção”, ressalta.

Os altos e baixos da ND Metal também contam história da economia da capital. Em período próspero, grandes empresas de fora se instalaram aqui atraídas pelos incentivos fiscais. Visando a lucratividade, muitas terceirizavam os serviços. Nessa época, a indústria focou 90% da produção para atender as balanças Filizola. A fabricante, no entanto, entrou em declínio e deixou um rombo nas contas da empresa campo-grandense.

Mais uma vez, Nilvo teve de se reinventar para permanecer no mercado. Reduziu em 50% a capacidade, aproveitou a estrutura ampliada e passou a criar travas para portões, componentes diversos para máquinas agrícolas e para construção civil e gavetas para caçamba de pick-ups. “Sempre buscando os setores que poderiam desenvolver na cidade. As travas, por exemplo, foi visando a área de segurança, porque as opções sempre foram limitadas”.

O espirito empreendedor de Nilvo acabou levando à formação de um mercado fortalecido na capital e ao reconhecimento do segmento. Atualmente, além de diretor da Fiems, o empresário é presidente do Simemae/MS (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Mato Grosso do Sul).

“Hoje dá para dizer que Campo Grande é industrial também no segmento metal mecânico. Até então, era totalmente agroindustrial. Eu mesmo já formei três concorrentes, são pessoas que trabalharam comigo e depois abriram a própria empresa”, contou.

As transformações não pararam por aí. Com a internet, há a opção de ampliar os negócios e as vendas, focadas principalmente no mercado local, têm a possibilidade de ganhar o país. A atualização é aliada à formação constante de mão de obra, por meio dos treinamentos oferecidos pelo Senai. 

Para além do ganha pão da família, as relações de Nilvo Della Senta com Campo Grande, que completa 123 anos nesta sexta-feira (26/08), estão baseadas em afeto. Esposa, filha e amigos fortaleceram laços a partir da empresa e hoje fazem a cidade ser o melhor lugar para se viver. “Os recursos são todos de uma grande capital. Não falta nada aqui. Hoje para mim a cidade ideal é Campo Grande”, finaliza. 

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