Colaboração é a chave para mitigar impactos da inflação na cadeia de suprimentos das indústrias
19 de julho de 2022Por Plínio Pereira *
Durante a primeira fase da pandemia, entre o início de 2020 e meados de 2021, a inflação não foi um tema importante para a sociedade e para o mundo empresarial. Os reajustes de insumos, fornecedores e mão de obra, até então, eram de 1 dígito baixo e o foco das empresas estava em garantir disponibilidade para manter as fábricas e os mercados abastecidos, além de investir em tecnologia, inovação e na agenda de sustentabilidade. O cenário começou a mudar no segundo semestre do ano passado, à medida que as commodities tiveram um salto de preços e os indicadores macroeconômicos apontaram para uma aceleração, trazendo esse tema de volta para a mesa como uma das, senão a principal, preocupação dos executivos.
O primeiro sinal foi a expressiva elevação do IGPM ao longo de 2021, índice de referência para aluguéis e outros contratos, que têm componentes associados às matérias primas (aço, vidro, alumínio, etc.) e que, por conta da pandemia, tiveram grandes elevações. Esse movimento levou a uma corrida para renegociação de contratos de aluguel e, depois de meses de muita incerteza, parece ter havido uma certa acomodação. Quando o IGPM deu mostras que iria voltar a patamares menores, houve uma enorme aceleração nos custos dos combustíveis, agora associada à cotação internacional do petróleo, ao dólar e ao conflito na Europa. O preço do diesel, insumo básico para o setor de transporte e logística, subiu mais de 50% em um curto espaço de tempo. Dessa vez, todo o setor percebeu que o desafio para chegar a uma nova acomodação é maior e, por consequência, as conversas para revisão de preços tendem a ser mais difíceis e mais frequentes.
À medida que os índices de inflação se mantêm em patamares elevados, a margem de negociação das tarifas diminui e as antigas ferramentas das áreas de compras (“procurement”) já não têm o mesmo efeito. Os impactos são sentidos em toda a cadeia, até chegar ao consumidor final, que por consequência reduz a frequência de compras, troca produtos tradicionais por marcas mais baratas, ou até deixa de consumir itens não essenciais. Nesse cenário, novas abordagens são necessárias e parece haver grande espaço para que as empresas adotem uma postura mais colaborativa para enfrentar o inimigo comum: a ineficiência.
O primeiro passo é ter um olhar amplo da cadeia, verificando as oportunidades de racionalização e simplificação, reduzindo etapas ou mesmo mudando amplamente o desenho organizacional. Todos os elementos geradores de custo devem ser levados em conta: localização de fábricas e centro de distribuição, políticas de estoque, incentivos tributários, etc. Trabalhar melhor a consolidação e transferência de carga, além da frequência de abastecimento, também são estratégias eficientes. Adicionalmente, para que a equação funcione bem, também devem ser trazidos para a mesa os fornecedores, prestadores de serviço e os clientes varejistas e distribuidores. Todos trabalhando com o objetivo final de eliminar as ineficiências. Como última etapa, com o suporte de operadores logísticos, deve-se explorar potenciais sinergias através do compartilhamento de estruturas de armazenagem e transportes.
A adoção de novas tecnologias, com destaque para o monitoramento à distância e roteirização inteligente de frota, digitalização de processos, automação de atividades de movimentação, utilização de RPA e inteligência artificial, possivelmente associada ao “Machine Learning”, para previsão de demanda e planejamento logístico, entre outras, também deve fazer parte dos esforços para ganho de eficiência. E sim, algumas dessas abordagens exigem investimentos, porém, na quase totalidade das vezes, eles se pagam e trazem benefícios mensuráveis, não apenas para este momento de aperto nos custos. Trazem também ganhos em termos de qualidade do serviço, tempo de entrega e resiliência da cadeia, fatores fundamentais como pudemos ver nestes anos de pandemia.
Tendo este olhar, a inflação passa a ser mais um elemento de disrupção que pode gerar novas oportunidades de negócio e criar diferenciação.
Plínio Pereira * é vice-presidente de operação da DHL Supply Chain.
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