Entendendo os critérios da convocação de Ramon Menezes

Entendendo os critérios da convocação de Ramon Menezes

22 de março de 2023 Off Por Ray Santos
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Em 3 de março, o técnico interino da seleção brasileira, Ramon Menezes, deu a conhecer a sua lista dos 23 jogadores convocados para o primeiro compromisso da Verde e Amarela neste ano: o amistoso com o Marrocos em 25 de março, na cidade de Tânger (localizada no norte desse país africano).

As escolhas do ex-meia de 50 anos causaram estranhamento em jornalistas estrangeiros — principalmente devido às ausências de atletas que eram chamados regularmente pelo comandante anterior, Tite. Mas talvez tais jornalistas não tenham levado suficientemente em conta o fato de estarmos no início de um novo ciclo de Copa do Mundo.

Com isso queremos dizer o seguinte: para que no Mundial de 2026 a Canarinho justifique as cotações de plataformas de apostas esportivas, que põem Brasil e França como os dois favoritos ao título, faz-se necessário desde já testar atletas que possam servir à seleção por anos e anos. Mesmo que alguns deles não estejam necessariamente “prontos” agora.

Apostando na juventude

Para começarmos a compreender os critérios adotados nessa convocação, precisamos estar cientes do que credenciou o atual comandante a chegar onde está. Nesse sentido, é fundamental realçar que foi Ramon o técnico do Brasil na conquista do mais recente Campeonato Sul-Americano Sub-20, realizado entre janeiro e fevereiro na Colômbia.

Como dito no portal Terra, cinco dos atletas que participaram daquele torneio estão entre os convocados para o jogo com o Marrocos: o goleiro Mycael (Athletico-PR), o lateral-direito Arthur (América-MG), o zagueiro Robert Renan (Zenit), o meio-campista Andrey Santos (emprestado pelo Chelsea ao Vasco) e o atacante Vitor Roque (Athletico-PR).

Mantendo-se fiel a essa aposta na juventude, Ramon chamou outros dois nomes bastante promissores: os meio-campistas André (Fluminense) e João Gomes (Wolverhampton). André tem 21 anos, João 22; logo, ambos podem muito bem disputar não só o Mundial de 2026 mas também o de 2030 (e talvez até o de 2034).

Olhando para o futebol brasileiro

Além dos sete jogadores mencionados nos parágrafos anteriores, foram convocados pela primeira vez o meio-campista Raphael Veiga e o atacante Rony — ambos do Palmeiras. Em relação a esses dois não podemos nos valer do critério da juventude; tanto um quanto o outro já têm 27 anos. Então, o que levou Ramon a convocá-los?

Uma possível resposta é o desejo de valorizar o futebol brasileiro. Entre as principais críticas feitas a Tite estava a sua forte preferência por atletas que estivessem defendendo algum clube da Europa. Tanto foi assim que ninguém se surpreendeu ao ver que, na lista para a Copa do Catar, 22 dos 26 convocados atuavam no Velho Continente.

E, se é para chamar alguém que esteja atuando no Brasil, é justo dar prioridade aos atletas do Alviverde paulistano. Os comandados de Abel Ferreira foram os campeões da última Série A, e uma busca por prognósticos e palpites de apostas no atual Campeonato Paulista mostra que são eles os favoritos à conquista deste torneio.

É claro que, ao olhar com mais atenção para os clubes daqui, Ramon sabia que acabaria cometendo “injustiças”. Entre os que não foram lembrados por ele está o zagueiro Gabriel Magalhães, que é titular do Arsenal, da Inglaterra. O próprio jogador, como noticiado pelo site da TNT Sports, ironizou o fato de não ter sido chamado.

Por outro lado, foram lógicas as não convocações do goleiro Alisson (Liverpool), do lateral-direito Danilo (Juventus) e do meio-campista Casemiro (Manchester United). Os três eram titulares indiscutíveis até meses atrás; mas, por já terem 30 anos ou mais, precisamos considerar a hipótese de já não estarem atuando em alto nível quando 2026 chegar.

Uma transição suave

Tudo o que dissemos até aqui pode dar a impressão de que Ramon adotou uma radical mudança de critérios em relação a Tite, mas não foi bem assim. Dos 23 primeiros convocados de 2023, 11 estiveram no último Mundial de Seleções da FIFA, e 15 defendem clubes europeus (a maioria da Inglaterra).

Talvez o novo treinador até quisesse chamar outros jogadores que estiveram no Catar, mas o momento não era propício. O atacante Neymar, por exemplo, se lesionou em 19 de fevereiro durante uma partida do Paris Saint-Germain. Já o meio-campista Fabinho não está lesionado, mas a sua equipe, o Liverpool, faz uma temporada muito abaixo do esperado.

Os que ainda assim não estiverem convencidos quanto às decisões tomadas por Ramon Menezes podem se sentir aliviados de saber que, quando as Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo de 2026 começarem, o Brasil já deverá ter um treinador efetivo. Mas, se ele for sábio, certamente analisará com atenção as escolhas feitas por seu antecessor.


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