Importância de discutir a saúde mental dentro do “S” do ESG

Importância de discutir a saúde mental dentro do “S” do ESG

12 de julho de 2023 Off Por Daniel Suzumura
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Empresas ao redor do mundo têm repensando iniciativas de bem-estar nos diferentes modelos de trabalho

É indiscutível o valor comercial e social proveniente do padrão ESG, e embora grandes avanços tenham ocorrido quanto à compreensão do conceito e implementação entre as organizações ao redor do mundo, ainda resta muito a ser explorado quanto à conscientização.

Temos explorado amplamente o “G” de governança, mas é fundamental que os demais pilares também sejam alvos de reflexões e de iniciativas, como é o caso do “S”, ligado ao social e a medidas que promovam o bem-estar dos profissionais nas equipes.

Por meio da ampla experiência no mercado corporativo, como consultor à frente da MORCONE Consultoria Empresarial e conselheiro consultivo, com vivência na implantação de governança corporativa e padrões ESG em empresas de todos os portes, hoje quero explorar o tema saúde mental na pauta ESG.

O olhar para a saúde mental no ambiente de trabalho se intensificou na fase durante e pós-pandêmica e levantamento realizado pela LifeWorks Mental Health mostrou que um dos fatores de preocupação quanto ao “S” de ESG é com a saúde mental:

 – 76% dos entrevistados afirmaram que ter suporte à saúde mental é um diferencial no momento de optar por pedir ou não demissão no trabalho.

Já o relatório emitido pela Lancet Commission prevê que até 2030, o número de dias de trabalho perdidos em virtude de problemas dos funcionários relacionados à saúde mental vai custar à economia global US$ 16 trilhões.


Saúde mental na pauta ESG – um dos temas mais urgentes entre as organizações ao redor do mundo

Você já se sentiu esgotado no ambiente de trabalho? E aqui é importante pontuar que se entende por ambiente, modelos de trabalho presencial, híbrido e remoto.

Provavelmente já tenha enfrentado a síndrome de burnout ou conheça pessoas próximas que tenham passado pelo problema.

Também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, trata-se de um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante que demandam muita competitividade ou responsabilidade.

Dentre os principais sintomas da síndrome de burnout, de acordo com o Ministério da Saúde, estão:

  • Cansaço excessivo, físico e mental;
  • Dor de cabeça frequente;
  • Alterações no apetite;
  • Dificuldades de concentração;
  • Isolamento;
  • Dores musculares;
  • Sentimentos de derrota e desesperança;
  • Fadiga;

Entre outros.

As práticas ESG são uma resposta aos acontecimentos da atualidade e um meio para garantir melhores condições ao mercado e sociedade no futuro.

Empresas são organismos vivos, formadas por seres humanos e estão em contínua evolução e não se pode falar em humanidade sem refletir sobre aquilo que é essencial à vida humana como alimentação, cuidados com o corpo físico (atividade física) e saúde mental.

A questão em torno do Meio Ambiente, Social e Governança é que as organizações repensem sua atuação no mercado e sejam impactadas a uma transformação e influência que ocorram de dentro para fora.

Lembra como antes era “simples” para as empresas afirmarem ser sustentáveis? Bastava incluir políticas relacionadas em seus relatórios ou instalar sinalizações de reciclagem, de redução de desperdício, etc. Porém, nada mudava na realidade do negócio, em grande parte dos casos, o ambiente continuava tóxico, adoecendo profissionais e ainda assim, essas empresas eram listadas como as mais “conscientes” quanto à sustentabilidade.

Isso precisava mudar, infelizmente perdemos muitas vidas em uma crise de saúde (último dado fornecido pela OMS em 2022 era de cerca de 15 milhões ao redor do mundo) e vimos empresas repensando sua atuação, assim como profissionais analisando a postura das empresas diante de uma grave crise.

De repente, o discurso das organizações passou a ser ignorado, porque as partes interessadas queriam ver ações práticas e isso nos coloca em um novo nível de consciência com maior valorização do propósito, como nunca antes.

A questão da saúde mental na pauta ESG vai além da incorporação de práticas de desenvolvimento humano direcionadas pela área de RH, hoje é fundamental que se pense no tema em todas as esferas da empresa, que as lideranças estejam engajadas quanto a iniciativas que envolvam a promoção do bem-estar entre as pessoas.

Algumas ações adotadas por empresas para a promoção da saúde mental e bem-estar chamam a atenção:

Votorantim – ao longo da pandemia criou o programa online “Desafio VSaúde”, para o estímulo do engajamento e participação de seus profissionais em ações envolvendo a prática de exercício físico. A ideia também era a de estimular a prevenção, antes que alguma questão de saúde como é o caso da ansiedade, por exemplo, pudesse se agravar, sendo assim, os profissionais são estimulados à realização de exames de rotina.

LinkedIn – Atuando de forma remota desde 2020, uma das ações da empresa é conceder uma semana de folga remunerada a todos os funcionários ao redor do mundo. A ideia é que as pessoas desfrutem de mais tempo de descanso e autocuidado para uma melhor vivência no ambiente de trabalho junto aos colegas.

Unilever – A empresa que conta com mais de 12 mil profissionais ao redor do Brasil utiliza ferramentas e estratégias voltadas tanto à saúde mental, quanto física, com destaque para a disponibilização de tratamentos com a finalidade de identificar gatilhos geradores de distúrbios emocionais.
 

Por que a saúde mental precisa estar presente na pauta dos conselhos?

Em 2022, a OMS junto à Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicou documentos inéditos mostrando que cerca de 15% dos trabalhadores vivem com um transtorno mental.

Além disso, foi mensurado que ambientes de trabalho saudáveis e abertos ao diálogo influenciam positivamente os profissionais para além da renda, considerando os fatores: rotinas estruturadas, relacionamentos positivos e senso de propósito e de realização.

Hoje temos ouvido falar recorrentemente na criação de segurança psicológica nos ambientes de trabalho em que os profissionais possam se sentir livres para expressar (se for o seu desejo), questões delicadas para o devido acolhimento por parte do time de trabalho.

E é claro que ao abordar saúde mental na pauta ESG é inevitável não pensar no quanto o tema é crucial também na pauta dos conselhos.

A ética é um dos principais pilares da governança, sendo fundamental não apenas no relacionamento da empresa com os stakeholders, mas também com as pessoas que compõem a equipe, construindo um ambiente salutar, em que todos se sintam valorizados e livres para ser quem são.

Como as empresas têm priorizado o tema entre os seus conselhos? É fundamental que sejam criadas iniciativas que promovam o bem-estar e saúde mental das pessoas na equipe, além disso, exercícios como o da escuta ativa tornam-se imprescindíveis da empresa para com as pessoas e de cada profissional com os seus pares.

Uma organização não é formada apenas por conhecimentos técnicos, aliás, sendo assim, soft skills ou habilidades comportamentais emergem como prioridade para os próximos anos.

É de responsabilidade dos conselhos manter a organização focada nas principais prioridades do “S” do ESG, sendo a saúde mental talvez a mais importante delas.

Ter uma mente saudável vem antes de qualquer iniciativa estratégica, projeto de expansão ou qualquer objetivo que a organização almeja.

Esse assunto não pode sair de pauta, tampouco deve estar fora da cultura organizacional, sua empresa dá a devida atenção ao tema?


Carlos Moreira – Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.

Por Daiana Barasa


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