Ministra Rosa Weber defende engajamento da sociedade nas decisões sobre questões climáticas

Ministra Rosa Weber defende engajamento da sociedade nas decisões sobre questões climáticas

11 de setembro de 2023 Off Por Marco Murilo Oliveira
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A presidente do STF e CNJ fez a palestra de abertura do “Colóquio Internacional sobre Justiça Climática e Democracia”, na manhã desta segunda-feira (11)

Na abertura do “Colóquio Internacional sobre Justiça Climática e Democracia”, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Rosa Weber, defendeu que a relação entre a democracia e a justiça climática se baseia na participação da sociedade civil. Na avaliação da ministra, o cidadão deve fazer parte do sistema decisório, numa forma de “engajamento cívico, que vai além do porte do título de eleitor”, uma vez que as mudanças climáticas afetam a todos.

O seminário está sendo realizado entre hoje (11) e amanhã (12), na Sala de Sessões da Primeira Turma do STF, com a participação de ministros dos Tribunais Superiores, da sociedade civil e especialistas em questões sobre direito e mudanças climáticas. Participaram também da mesa de abertura a ministra do STF Cármen Lúcia, as ministras Marina Silva, do Meio Ambiente, e Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas, e a vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), Thelma Krug.

Extremos e frequentes

Para Rosa Weber, é urgente a necessidade de soluções para eventos cada vez mais extremos e frequentes, que devem observar o prisma da democracia, da proteção de direitos humanos e do meio ambiente. Nesse sentido, ela citou grandes desastres naturais recentes como as inundações em seu estado natal, Rio Grande do Sul, e incêndios no Canadá, na Grécia e em Portugal. Diante dessa urgência, a ministra enalteceu a importância de debates em âmbito nacional e internacional como o seminário que está sendo realizado pelo STF, apontando que a justiça climática não pode ser considerada como uma variável isolada e autônoma no desenho institucional e constitucional brasileiro.

A presidente do STF ressaltou que a omissão inconstitucional em relação a meio ambiente, questões climáticas, direitos humanos e democracia, leva “à prestação incompleta das políticas públicas por parte do administrador” e a uma “reiterada violação de direitos, por insuficiência de tutela”, no que o STF classifica como “estado de coisas inconstitucional”. Nesse sentido, lembrou uma série de decisões importantes tomadas na Corte com a temática ambiental, como a participação popular no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), Fundo Clima, Fundo Amazônia, proibição do amianto, Código Florestal, importação de pneus usados, entre outros.

Como chegamos até aqui?

A ministra Cármen Lúcia destacou a importância da interlocução com a sociedade, em prol da dignidade humana, numa verdadeira conjunção de esforços, diante de um problema que afeta a todos. Ela observou que a preocupação com o meio ambiente e a Amazônia é antiga ao ler trecho de um texto do ministro Alberto Torres, que se aposentou em 1910, há 113 anos. Segundo Cármen Lúcia, se nós tínhamos juízes brasileiros falando e pensando isso naquela época, no principal Tribunal do país, “como chegamos até aqui?”, indagou. Assim, afirmou que o encontro como que está sendo realizado é importante para se discutir o que fazer, pois, segundo ela, “é preciso não apenas o verbo, é preciso o ato, o gesto permanente de compromisso”, com ética, comprometimento de todos e responsabilidade.

Avassalador e irreversível

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, falou sobre a interrupção de políticas públicas na área ambiental nos últimos anos, destacando que apesar de questões regulatórias e normativas, falta efetiva implementação. Ela lembrou que quando da realização da conferência mundial do clima, Rio-92, eles alertavam que os eventos climáticos estavam a bater em nossas portas. Hoje, segundo Marina, “eles entraram, invadiram a nossa casa e estão arrebentando tudo”. Ela citou o fenômeno El Niño, como agente que potencializa mudanças climáticas e seus efeitos devastadores e que é preciso aplicar o princípio da precaução, “pois estamos lidando com algo avassalador e irreversível”. Para Marina Silva, “precisamos sair do modelo insustentável para um modelo sustentável de desenvolvimento, em suas diversas dimensões.

Democracia e clima

A vice-presidente do Painel Intergovenamental sobre Mudança do Clima, Thelma Krug, salientou a necessidade de compreender melhor o efeito que a mudança climática poderá ter sobre as democracias. De acordo com ela, a previsão é de que os impactos do aquecimento global serão mais graves nos próximos anos e colocarão maior pressão sobre os governos. Por isso, a necessidade de compreender como a governança democrática pode ser desenvolvida ou melhorada para se tornar mais capaz de lidar com essa crise. Para Thelma, é preciso aprofundar como e quanto a mudança do clima e seus impactos podem afetar a capacidade de resposta dos governos, diante da importância da segurança alimentar para os meios de subsistência e a estabilidade social, política e econômica.

Impactos para os indígenas

Ao participar da abertura, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, salientou que as alterações climáticas são também um produto da desigualdade e de um sistema econômico obcecado pelo crescimento. Segundo ela, a questão do clima aparece cada vez mais nos noticiários, artigos acadêmicos e eventos institucionais, e é uma realidade para as pessoas de baixa renda e minorias, como é o caso dos povos indígenas. “As alterações climáticas impactam não só os nossos direitos, mas a nossa existência, que juntos possamos reforçar a urgência sobre esse tema para os povos indígenas”, ressaltou.

STF


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