Pesquisadores apresentam primeiros resultados de estudo de onças no Parque Nacional Grande Sertão Veredas
15 de setembro de 2023Pesquisas realizadas pelo ICMBio e parceiros também trazem dados que indicam ocupação até quase quatro vezes maiores que na Amazônia e que quase metade da população possui melanismo
O monitoramento em campo de onças-pintadas no Parque Nacional Grande Sertão Veredas ( MG ) avança e começa a trazer resultados de pesquisa. Em junho, após a captura das onças Guirigó e Riobaldo, foi iniciado o acompanhamento dos animais por meio de rádios-colares que permitem o rastreamento e o registro da saúde com a menor interferência humana possível.
O trabalho, realizado conjuntamente entre Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a organização não-governamental Onçafari e a Pousada Trijunção constataram dados importantes para a conservação da pesquisa. “Uma das descobertas mais impressionantes diz respeito às incidência da variação melân ica do animal”, conta o especialista e chefe do Onçafari , Eduardo Fragoso. O estudo constatou que o indíce de onças pretas varia entre 40 a 48% no território Trijunção -PNSGSV. Ou seja, quase met ade da população de onças é melânica. Para se ter uma ideia, esta mutação genética tem uma frequência de aproximadamente 10% na espécie nas Américas e é a usente na s planícies alagáveis do Pantanal e nos Llanos da Venezuela. Guirigó , uma das onças estudadas, faz parte desta população raramente vista na natureza.
Uma das investigações importantes é entender as áreas ocupadas pelas onças. Com a localização via GPS, é possível mapear os caminhos feitos, onde encontram refúgio e recursos, como presas e água. De acordo com o Onçafari , no caso de Guirigó , foi possível perceber que sua área de vida se restringe à vegetação nativa de Cerrado, evitando áreas desmatadas — o que reforça a importância da conservação do bioma.
F oi possível registrar que no período as onças ocuparam grandes áreas. Guirig ó ocupou cerca de 417 km² e Riobaldo, cerca de 477 km², uma dimensão que se estende até a Área de Proteção Ambiental Nascentes do Rio Vermelho, cerca de 80 km do Parque. Ao observar os padrões, é possível comparar as onças entre si e entre populações de outros biomas. De acordo com o especialista Eduardo Fragoso, chefe da Onçafar i , os machos de onças-pintadas no Pantanal, em média, ocupam 144,3 km², enquanto na Amazônia, cerca de 211,6 km² – quase metade do registrado por Guirig ó e Riobaldo.
Outras descobertas possíveis sobre o comportamento dos animais são captadas pelas armadilhas fotográficas, que são máquinas implantadas em alguns locais da vegetação nativa e ativadas com o movimento. É possível ter registros visuais das onças e da dinâmica das interações entre elas e com outros animais por meio dos vídeos, além de gerar estimativas de quantos percorrem a região.
Do início de 2022 até agosto de 2023, foram registrados 489 vídeos de onças-pintadas dentro do Parque Nacional. No mesmo período, foram registradas de 18 a 22 onças-pintadas diferentes – a incerteza do número se dá pelas onças-pretas, que por sua pelagem escura, são mais difíceis de identificar. Com dados integrados do Parque e da ONG, o número estimado de indivíduos é entre 25 a 31.
Com os resultados, é possível trabalhar em prol da conservação da espécie onça-pintada ( Panthera onca ), que é ameaçada de extinção. Com dados científicos especializados e compartilhados entre pesquisadores, tem sido possível determinar cada vez mais ações efetivas para a proteção e reverter o declínio da espécie.
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)