Restauração de manguezais no Delta do Parnaíba protege o tamanduaí, o menor tamanduá do mundo
Tamanduaí passa a maior parte do tempo no alto das árvores, mede cerca de 30 centímetros e pesa, no máximo, 400 gramas | Foto: Instituto Tamanduá/Fundação Grupo Boticário

Restauração de manguezais no Delta do Parnaíba protege o tamanduaí, o menor tamanduá do mundo

28 de setembro de 2024 Off Por Marco Murilo Oliveira
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Espécie descoberta recentemente no litoral do Nordeste mede 30 centímetros e pesa, no máximo, 400 gramas

Reflorestamento, conservação de áreas e turismo de base comunitária são estratégias adotadas para proteger a rica biodiversidade local

Projeto apoiado pela Fundação Grupo Boticário mantém base de pesquisa avançada para conhecer espécie emblemática dos manguezais nordestinos

A restauração e proteção de manguezais no Delta do Parnaíba, área de transição de Amazônia, Caatinga e Mata Atlântica localizada entre o Piauí e o Maranhão, está contribuindo para resguardar o tamanduaí (Cyclopes didactylus), a menor espécie de tamanduá do mundo. Descoberta recente na região, o animal ainda pouco conhecido pela ciência tornou-se um símbolo da conservação do manguezal no litoral nordestino. Solitário e de hábitos noturnos, o tamanduaí passa a maior parte do tempo no alto das árvores, mede cerca de 30 centímetros e pesa, no máximo, 400 gramas.

“Acreditava-se, até recentemente, que esses pequenos tamanduás só ocorriam na floresta amazônica. Estudos genéticos indicam que os indivíduos do Delta do Parnaíba estão separados há 2 milhões de anos daqueles que vivem na Amazônia. Desde estão, evoluem separados pela formação do delta e da Caatinga, que separou a Mata Atlântica da Amazônia há milhões de anos”, explica a médica veterinária Flávia Miranda, coordenadora do Instituto Tamanduá e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN). O tamanduaí é classificado pela International Union Conservation of Nature (IUCN) com status de “dados deficientes” devido ao pouquíssimo conhecimento sobre a espécie.

As pesquisas iniciadas em 2008, com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, revolucionaram a compreensão sobre a ocorrência do tamanduaí nas Américas Central e do Sul, mostrando que na verdade existem sete espécies do pequeno animal. A conservação da espécie no Delta do Parnaíba ganhou importante impulso nos últimos quatro anos com a criação de uma base avançada de pesquisa, com laboratório de campo completo e ações para a conservação e reflorestamento dos manguezais. O programa do Instituto Tamanduá já identificou mais de 30 animais na região.

“Também realizamos, pela primeira, vez a coleta de sêmen dessa espécie”, destaca Flávia. “Agora, temos a possibilidade de fazer pesquisa reprodutiva monitorada, contribuindo para evitar a extinção e, se necessário, promover a reintrodução dos animais no habitat natural”, conta a veterinária. Outra ação importante para a proteção do tamanduaí foi o início do processo de criação de uma unidade de conservação da Resex Casa Velha do Saquinho, no limite territorial da Resex Marinha do Delta do Parnaíba.

O programa tem buscado a criação de soluções em conjunto com a população local. “Conseguimos cercar algumas áreas de manguezal para evitar a entrada de animais domésticos, facilitando a regeneração natural do ecossistema, e já restauramos quase 2 hectares com vegetação nativa. Pode não parecer uma área tão significativa para o tamanho do Delta do Parnaíba, mas o reflorestamento de manguezais é uma tarefa bastante desafiadora. Também estamos buscando alternativas econômicas e sustentáveis para a população local, como o desenvolvimento do turismo de base comunitária”, salienta Flávia.

“Esse esforço para a conservação do tamanduaí é emblemático. Demonstra a importância de ampliarmos os esforços para a promoção do conhecimento científico para a proteção da biodiversidade e, também, a necessidade de ampliação das unidades de conservação para que espécies como esta tenham áreas seguras e extensas para o seu desenvolvimento”, analisa a bióloga e gerente de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Marion Silva, lembrando ainda a importância das áreas protegidas para a segurança hídrica, resiliência costeira e adaptação às mudanças do clima.

O Delta do Parnaíba possui mais de 80 ilhas em uma área de quase 3 mil quilômetros quadrados, formando uma das maiores extensões de manguezais do Brasil. A área é considerada um berçário da vida marinha e habitat para diversas espécies, como o peixe-boi, o guará e diversos peixes de valor comercial. “A região como um todo ainda é pouco conhecida, mas infelizmente já é muito vulnerável”, alerta Flávia.

As pressões locais vão desde um turismo predatório, passando pela presença de animais domésticos em áreas de manguezal, até o interesse das usinas eólicas. “Como toda região de conexão marinha, os manguezais também enfrentam os desafios globais do oceano, como o aquecimento das águas, acidificação, excesso de plástico, entre outras ameaças”, afirma Miranda. De acordo com a publicação Oceano sem mistérios: desvendando os manguezais, organizada pela Fundação Grupo Boticário, cerca de 25% dos manguezais brasileiros já foram perdidos.

Sobre a Rede de Especialistas em Conservação da Natureza

A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) reúne cerca de 80 profissionais experientes e reconhecidos de diversas áreas do conhecimento que compartilham de uma visão comum: a importância da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. Com especialistas de todas as regiões do Brasil – inclusive alguns do exterior –, a RECN conta com economistas, juristas, urbanistas, biólogos, engenheiros, ambientalistas, cientistas e professores universitários. São porta-vozes voluntários atentos, entre outros temas, à adaptação às mudanças climáticas, segurança hídrica, proteção de mananciais, aumento da resiliência das zonas costeiras, conservação do oceano e à adoção das Soluções Baseadas na Natureza (SBN). O grupo concede entrevistas sobre assuntos variados, trazendo novas perspectivas, gerando conteúdo e enriquecendo reportagens e artigos para diversos veículos de comunicação com informações qualificadas. Criada em 2014, a RECN é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza para ampliar a comunicação científica e ambiental para a sociedade. Os pronunciamentos e artigos dos membros da RECN refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores. Acesse o Guia de Fontes em www.fundacaogrupoboticario.org.br

Sobre a Fundação Grupo Boticário

Com mais de 30 anos de história, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para conservar o patrimônio natural brasileiro. Com foco na adaptação da sociedade às mudanças climáticas, especialmente em relação à segurança hídrica e à proteção costeira, a instituição trabalha para que a conservação da biodiversidade seja priorizada em todos os setores. Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, considera que a natureza é a base para o desenvolvimento social e econômico do país. Sem fins lucrativos e mantida pelo Grupo Boticário, a Fundação Grupo Boticário contribui para que diferentes atores estejam mobilizados em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou mais de 1.700 iniciativas em todos os biomas no país. Criou e mantém duas reservas naturais de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil pelo desmatamento –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com 1,4 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A instituição é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador e presidente do Conselho do Grupo Boticário, criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. | www.fundacaogrupoboticario.org.br | @fundacaogrupoboticario (Instagram, Facebook, LinkedIn, Youtube, TikTok).

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