DORMIR BEM TODO OS DIAS É ESSENCIAL PARA A SAÚDE FÍSICA E MENTAL
17 de março de 2023Para celebrar o Dia Mundial do Sono, comemorado em 17 de março, o Instituto do Sono promove uma série de atividades com o tema “O sono é essencial para a saúde”.
Estudos internacionais1-4 apontam que dormir bem melhora o humor, a concentração, fortalece o sistema imunológico e previne doenças cardiovasculares e metabólicas.É durante esse período de descanso que o organismo exerce as principais funções restauradoras, repõe energia e regula o metabolismo. “Não por acaso, o sono é considerado um dos 3 pilares da saúde, ao lado da boa nutrição e da prática de atividade física”, afirma a médica Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Sob o tema “O sono é essencial para a saúde”, o Instituto do Sono vai promover uma série de atividades em suas redes sociais para comemorar o Dia Mundial do Sono, celebrado em 17 março, como descontos em cursos e produção de vídeos com recomendações de especialistas para melhora da duração e da qualidade de sono para a saúde física e mental dos brasileiros.
Parceria
Em março, o Instituto do Sono se tornará na primeira instituição de saúde na América Latina a adotar o software Mask Selector 2D e 3D Connected, da Philips. A solução escaneia o rosto de paciente e recomenda o tipo de máscara que melhor funciona conectada ao CPAP, um aparelho usado no tratamento da apneia obstrutiva do sono. Da sigla do inglês Continuous Positive Airway Pressure, o CPAP é um compressor que injeta um fluxo contínuo de ar nas vias aéreas do paciente, por meio de uma máscara ajustada ao nariz e, às vezes, ao nariz e à boca.
Lançado no ano passado no Brasil, o software é resultado de mais de 10 anos de pesquisa em escaneamento facial, representando uma ampla variedade de etnias e geografias. A solução pode ser usada na casa do paciente (versão 2D) ou no consultório (3D). Por meio de inteligência artificial, a versão 3D identifica os 46,2 mil pontos mais importantes do rosto do paciente para determinar o melhor tipo de máscara ideal. O usuário pode até ver como a máscara ficará em tempo real, com representações visuais geradas por computador.
Sono e saúde
Na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS)5 ser saudável é muito mais do que não estar doente. Saúde é o estado completo de bem estar físico, mental e social. Pessoas que dormem mal podem ter irritabilidade, falta de atenção e fadiga. A privação de sono e o sono insuficiente aumentam o risco para problemas cardiovasculares e metabólicos, como hipertensão e diabetes, além de propensão para obesidade.
A Associação Brasileira do Sono (ABS)6 recomenda ao adulto dormir entre 7 e 9 horas por noite. Quem dorme pouco de forma eventual pode ter sonolência, fadiga, mau humor e redução do desempenho cognitivo, inclusive a capacidade de decisão. “Pessoas que costumeiramente dormem pouco vivem menos e apresentam mais risco de desenvolver demência”, explica a médica Dalva Poyares.
Para a Academia Americana de Medicina do Sono7, prolongar a duração de sono em pessoas que habitualmente dormem pouco pode trazer benefícios para saúde. Um estudo8 da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, avaliou por 2 semanas o impacto da duração de sono sobre a saúde cardiovascular de 53 universitários, com idade média de 20 anos. Nos primeiros 7 dias, todos mantiveram o horário habitual de sono. Nos outros 7 dias, aumentaram em 1 hora a duração de sono. Os participantes relataram que na segunda semana apresentaram menos sonolência diurna e queda na pressão arterial sistólica.
Os benefícios do sono podem ir além da saúde física. Pesquisadores da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, realizaram um estudo9 para analisar o estado emocional de 72 jovens, entre 18 e 24 anos, que dormiam em média 7 horas por noite. Por 2 semanas, eles relataram o estado de humor por meio de um aplicativo. Nos dias 8 e 14, parte deles foi convidada a estender a duração de sono por 90 minutos. Os estudantes que dormiram mais tempo melhoraram a qualidade de sono e tiveram mais emoções positivas do que os que dormiram 7 horas.
O sono no Brasil
No Brasil, as pessoas dormem, em média, 6,4 horas por noite, de acordo com estimativas da ABS10. Além da duração reduzida, 65,5% dos brasileiros apresentam sono de má qualidade, segundo estudo11 realizado por pesquisadores da Unifesp e da Universidade de São Paulo (USP). As pessoas com pior padrão de sono são jovens, mulheres e casais que dormem em camas ou quartos separados e que usam mídias interativas. A pesquisa englobou 2.635 adultos, com idade média de 35 anos, dos quais 70% do sexo feminino.
A médica Dalva Poyares, uma das autoras do estudo, explica que um dos achados foi o papel da interatividade das mídias no atraso no início do sono. Em geral, há uma preocupação com a luz emitida pelo celular por inibir a produção da melatonina, o hormônio da escuridão. Outro ponto de destaque foi constatar que a queixa de má qualidade de sono partiu de mulheres com menos de 55 anos. “A questão da idade é importante”, pondera a especialista. Normalmente, este tipo de queixa vem de pessoas mais velhas. “A pesquisa mostra que a má qualidade de sono está atingindo cada vez populações mais jovens”, complementa.
Distúrbios de sono, como insônia e apneia obstrutiva do sono, podem ser responsáveis por piorar o padrão de sono. Só na cidade de São Paulo, 45% dos moradores queixam-se de insônia ou dificuldade para dormir. O dado é do Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo (Episono)12, conduzido pelo Instituto do Sono. Deste total, 15% possuem insônia crônica.
A insônia se caracteriza pela dificuldade para iniciar e manter o sono ou acordar de maneira precoce pela manhã. Provoca sonolência diurna excessiva, irritabilidade, agressividade, desatenção, falta de memória, fadiga, baixa produtividade profissional e rendimento escolar. Quando ocorre por 3 vezes por semana por mais de 3 meses é considerada crônica.
O Episono revela que 33% dos paulistanos apresentam algum grau de apneia obstrutiva do sono. Trata-se de uma doença marcada por episódios recorrentes e intermitentes de colapso das vias aéreas, que levam à cessação total ou parcial do fluxo de ar. Pode causar ronco, fragmentação de sono, sonolência excessiva diurna, cansaço, redução da memória e alterações de humor. Quando a apneia é grave pode aumentar o risco para doenças metabólicas e cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
Na visão de Dalva Poyares, uma maneira de a pessoa aferir a qualidade de sono é verificar se acorda bem disposta. “Quando há suspeita de um problema de sono, o ideal é procurar ajuda profissional, porque a melhora da duração e da qualidade de sono tem impacto direto sobre a saúde física e mental”, assegura. Ela afirma que pessoas ansiosas tendem a dormir mal e indivíduos com insônia crônica apresentam risco aumentado para a depressão. A médica destaca que, como o sono é um dos pilares da saúde, é importante ter em mente outros pilares, que são a boa nutrição e a prática de exercícios. “Pessoas ativas físicas e mentalmente dormem melhor”, conclui a especialista.
Referências
1. June J. Pilcher, Allen I. Huffcutt. Effects of sleep deprivation on performance: a meta-analysis. Sleep, Volume 19, edition 4, 1996, páginas 318–326. Disponível em https://academic.oup.com/sleep/article/19/4/318/2749842
2. Tononi G, Cirelli C. Sleep and the price of plasticity: from synaptic and cellular homeostasis to memory consolidation and integration . Neuron; 2014 ;81:12-34, 24411729 . Disponível em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0896627313011860
3. AA Prather et al. Sleep and antibody response to hepatitis B vaccination. Sleep , Volume 35, edição 8, August 2012, Pages 1063–1069, Disponível em https://academic.oup.com/sleep/article/35/8/1063/2558920
4. Wang Q, Xi B, Liu M, Zhang Y, Fu M.Short sleep duration is associated with hypertension risk among adults: a systematic review and meta-analysis. Hypertension Research,2012 ;35:1012-8. Disponível https://www.nature.com/articles/hr201291
5. Organização Mundial da Saúde. Disponível em https://www.who.int/about/governance/constitution
6. Associação Brasileira do Sono. Cartilha do Sono. Disponível em https://semanadosono.com.br/wp-content/uploads/2021/01/cartilha_semana_sono_2020.pdf
7. Kannan Ramar el atl. Sleep is essential to health: an American Academy of Sleep Medicine position statement.JCSM, Published on line 2021. Disponível em https://jcsm.aasm.org/doi/full/10.5664/jcsm.9476
8. Abagayle A. Stock.Effects of sleep extension on sleep duration, sleepiness, and blood pressure in college students. Sleep Health. Volume 6, Issue 1, 2020, Pages 32-39. Disponível https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2352721819302177
9. Christine E. Parson.Beneficial effects of sleep extension on daily emotion in short-sleeping young adults: An experience sampling study. Sleep Health. Volume 8, Issue 5, 2022, Pages 505-513
10. Jornal da USP. Disponível em https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/o-brasileiro-esta-dormindo-cada-vez-menos-e-isso-nao-e-bom/
11. Luciano F. Drager e al.Sleep quality in the Brazilian general population: A cross-sectional study,Sleep Epidemiology, Volume 2, 2022. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2667343622000014?via%3Dihub.
12. Instituto do Sono. Disponível em https://institutodosono.com/pesquisas/episono/
Sobre o Instituto do Sono
O Instituto do Sono é um centro de referência mundial em pesquisa, diagnóstico e tratamento em distúrbios de sono. Fundado em 1992 pelo Professor Sergio Tufik, é formado atualmente por mais de 100 colaboradores, entre eles médicos de diversas especialidades, técnicos, psicólogos, biólogos, biomédicos, dentistas, assistentes sociais, enfermeiras, fisioterapeutas, educadores físicos e pesquisadores. Além do atendimento à população, conta com uma área de educação continuada que já capacitou mais de 4.000 profissionais de saúde. www.institutodosono.com
O Instituto do Sono faz parte da AFIP (Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa), uma instituição privada, sem fins lucrativos e filantrópica, fundada há mais de 40 anos por profissionais da área da saúde, professor universitários e pesquisadores. Seu objetivo é fornecer suporte financeiro para atividades de docência, pesquisa científica e atendimento médico à população. www.afip.com.br.
Por Nora Ferreira