VIOLÊNCIA NO RJ: Polícia faz ‘3ª operação massacre’ sob o governo Cláudio Castro; fotos e vídeos

22 de julho de 2022 Off Por Ray Santos
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Mulheres inocentes foram executadas pela PM carioca, denunciam populares; imagens fortes

Por REDAÇÃO 22/07/22 às 09H39 atualizado em 22/07/22 às 11H35

A Chacina no Complexo do Alemão na quinta-feira (21/07), deixou 18 mortos. Foto: Twitter | Voz das Comunidades

O governo do bolsonarista Cláudio Castro (PL) ordenou na quinta-feira (21.jul.22), o 3ª ataque policial a favela em menos de 1 ano. Os alvos das polícias Civil e Militar estavam no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. Em uma ação desastrosa, a polícia matou uma mulher sem envovilmento com o crime e também perdeu um PM. Até o momento foram contabilizados 19 executados."Mais 3 corpos foram levados pelos moradores para a estrada do Itararé no Complexo do Alemão. A via está fechada neste momento em ambos sentidos" - Post no Twitter do Jornal Comunitário @vozdascomunidades“Mais 3 corpos foram levados pelos moradores para a estrada do Itararé no Complexo do Alemão. A via está fechada neste momento em ambos sentidos” – Post no Twitter do Jornal Comunitário @vozdascomunidades

Segundo a PM, ao menos 400 agentes atuaram na ação, que tinha como objetivo combater o roubo de carros, carga e bancos. Foi a 4ª operação policial mais letal da história do Rio, depois das que ocorreram no Jacarezinho em maio de 2021, quando 28 pessoas morreram, e na Vila Cruzeiro, em maio deste ano, que deixou 25 mortos – ambas na gestão do governador bolsonarista –, e de uma operação em 2007, também no Complexo do Alemão, com 19 mortos.

Entre as vítimas estão o cabo da PM Bruno de Paula Costa, atingido durante um ataque à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Fazendinha, e a moradora Letícia Marinho de Sales, de 50 anos, baleada no peito dentro de um carro parado em um semáforo. Testemunhas disseram que não havia confronto na hora que os tiros foram disparados por um agente."O número de corpos chegando à UPA do Alemão não para de crescer", disse em seu site o @vozdascomunidades“O número de corpos chegando à UPA do Alemão não para de crescer”, disse em seu site o @vozdascomunidades

“Foi para matar. O policial atravessou na frente do nosso carro e deu o tiro”, disse Denilson Glória, namorado da vítima, que estava com ela. “Não tinha bandido. Não estava tendo tiroteio”, narrou. 

Os 400 agentes envolvidos na operação prenderam quatro pessoas e apreenderam quatro fuzis, duas pistolas e uma metralhadora .50. 

A violência nos confrontos parece uma marca do governo do boalsonarista Além da ação de ontem, 4ª mais letal, as duas piores aconteceram em sua gestão. Em maio do ano passado, 28 pessoas, entre elas um PM, foram mortas no Jacarezinho; um ano depois foram 24 vítimas na Vila Cruzeiro. Como de hábito, Castro não fez qualquer crítica à operação de ontem. Em vez disso, afirmou, via Twitter, ter pedido ao Ministro da Justiça Anderson Torres que os quatro presos sejam enviados para presídios federais.

Em sua live semanal, o presidente Jair Bolsonaro, colega de partido de Castro, fez uma homenagem ao cabo Bruno, mas não comentou a morte da moradora nem das outras 16 pessoas.

E o número de óbitos pode ser maior. A ouvidoria da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e a Comissão de Direitos Humanos da OAB contabilizam ao menos 20 mortes a partir de dados das unidades de saúde da região. 

Com medo dos disparos, moradores se trancaram dentro de casa. “Comecei a ouvir os tiros por volta das 6h, quando estava tomando banho. Chamei minha filha e ficamos lá por mais de 30 minutos. Sentíamos que os tiros estavam muito perto, preferimos não pagar para ver”, contou a manicure Patrícia do Carmo, de 43 anos.

Em contraponto a  esse massacre, um integrante do Primeiro Comando Capital (PCC), maior facção criminosa do país, comprou legalmente um fuzil, pistolas e carregadores, segundo denúncia da Polícia Federal, que apreendeu as armas por ordem judicial. Mesmo tendo 16 processos na Justiça, incluindo homicídio qualificado e tráfico, ele obteve do Exército registro de caçador, atirador e colecionador (CAC), grupo beneficiado pelo relaxamento nas lei de compra e posse de armas. O Exército já admitiu não ter controle sobre esse armamento. 

“MASSACRE” 

A Defensoria Pública do Rio afirmou, em nota divulgada na noite da quinta-feira, haver “indícios de situações de grave violação de direitos” durante a operação no Complexo do Alemão, “com possibilidade desta ser uma das operações com maior índice de mortos no Rio de Janeiro”.

Moradores da favela acusaram policiais de atacarem civis e invadirem residências, fazendo batidas policiais e levando objetos pessoais em meio a intenso tiroteio.

“É um massacre lá dentro, que a polícia está chamando de operação”, disse à agência de notícias AP uma mulher em condição de anonimato, por temer represálias das autoridades. “Eles não estão deixando a gente ajudar (as vítimas)”, acrescentou, afirmando ter visto um homem sendo preso por tentar socorrer feridos.

Após a operação, moradores foram vistos agrupando pessoas feridas na parte de trás de veículos para levarem ao hospital, enquanto a polícia assistia.

Gilberto Santiago Lopes, da Comissão de Direitos Humanos da Associação Nacional da Advocacia Crimina (Anacrim), disse que a polícia se recusava a ajudar. “Tivemos que carregá-los em um carrinho de bebidas e depois pedir a um morador local para levá-los em seu carro ao hospital”, ele disse. “[A polícia] não visa prendê-los, eles visam matá-los, então se eles estão feridos, pensam que não merecem ajuda.”

Os moradores ficaram furiosos e gritaram com a polícia. “Estamos com medo de viver aqui”, gritou um morador após a operação. “Onde estamos? Afeganistão? Em uma guerra? No Iraque? Se eles querem uma guerra, mandem-nos para o Iraque.”

“LIDERANÇA FRACASSADA”Estrada do Itararé, principal via do Complexo do Alemão, segue fechada. A polícia utilizou bombas de gás lacrimogênio para dispersar os motociclistas que estavam na pista. Foto: Voz das Comunidades Estrada do Itararé, principal via do Complexo do Alemão, segue fechada. A polícia utilizou bombas de gás lacrimogênio para dispersar os motociclistas que estavam na pista. Foto: Voz das Comunidades 

A Anistia Internacional afirmou no Twitter que “o Ministério Público tem o dever constitucional de fazer o controle externo da polícia” e diz ser “inaceitável que ações mal planejadas q violam os direitos humanos de tantas pessoas continuem ocorrendo no Rio de Janeiro sem que nada seja feito pelos orgãos de competência”.

“QUEM VAI PARAR o governador @ClaudioCastroRJ e sua política de segurança pública desastrosa e violadora de direitos no Rio de Janeiro !?? Basta de tanta brutalidade! A FAVELA QUER VIVER!”, afirmou a ONG.

Robert Muggah, especialista em segurança e cofundador e diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, disse que a operação de quinta-feira é “um sintoma de liderança fracassada e uma cultura institucional que tolera força excessiva.”

“As mortes resultantes de operações policiais em grande escala são um lembrete sombrio de que o policiamento militarizado não é apenas ineficaz, é contraproducente”, disse Muggah em mensagem de texto citada pela AP, acrescentando essas invasões geram “violência extrema afetando predominantemente pessoas de baixa renda e populações negras ao mesmo tempo em que corrói a confiança entre os moradores e aplicação da lei.”

Em um vídeo compartilhado pelo portal Voz das Comunidades, moradores podem ser vistos clamando por paz e agitando panos brancos de suas janelas e telhados.

“NÃO DÁ MAIS! A chacina do Complexo do Alemão já é a 5ª mais letal da história do Rio de Janeiro, com 18 mortos até o momento, entre civis e um policial. É a máquina de moer gente que @claudiocastroRJ e o bolsonarismo vangloriam. Não há segurança efetiva com esse modelo genocida!”, escreveu no Twitter a deputada federal Talíria Perone (PSOL).

NESTA SEXTA 

Ontem foram executadas 18 pessoas. Na manhã desta sexta (22.jul), também foi executada pela polícia, Solange Mendes, de 49 anos, foi atingida por um policial na localidade da Caixa D’Água, mas a PM nega. Solange foi a 19º vítima dos conflitos que acontecem desde ontem (21), no Complexo do Alemão. Foto: Reprodução Solange foi a 19º vítima dos conflitos que acontecem desde ontem (21), no Complexo do Alemão. Foto: Reprodução 

Vizinhos disseram que Solange morava no Beco do Borges, no Largo da Vivi, e tinha uma pensão.

A PM afirmou que a base da UPP de Nova Brasília foi atacada por criminosos e negou revide. “Não houve confronto envolvendo os policiais militares que estavam no local”, disse, em nota.

“Após cessar o ataque criminoso, uma mulher foi encontrada ferida e foi socorrida pelos policiais militares para o Hospital Estadual Getúlio Vargas.”

PMS TAMPARAM O ROSTO DA MORADORA

Moradores contestam a versão da PM.

“Quando ela chegou aqui na esquina, começaram os tiros. Eu olho novamente e está ela caída”, narrou uma vizinha.

“Eles [PMs] tamparam o rosto dela, enrolaram o rosto dela com uma roupa deles mesmos para nem saber quem é. Um dos policiais ainda gritou que era moradora, mas como grita que é moradora e não mostra quem é?”, emendou.

FAFERJ

Em nota, a Federação de Associações das Favelas do Rio de Janeiro (FAFERJ) se pronunciou sobre a operação no Complexo do Alemão.

Mais uma manhã de terror. Cláudio Castro, o Governador das Chacinas, autorizou mais uma Operação Eleitoreira em favela. Na guerra da Ucrânia e em vários outros conflitos é proibido utilizar helicóptero como plataforma de tiro em área civil, é crime internacional. Mas nas favelas isso acontece cotidiamente, inclusive hoje no Alemão, com o Águia (helicóptero blindado) aterrorizando moradores. Essa lógica de guerra é um enxuga gelo que não resolve o problema da violência, ao contrário, apenas piora. Nós da FAFERJ repudiamos essa operação eleitoreira autorizada pelo Governador das Chacinas, Cláudio Castro.
Também externo minha solidariedade aos moradores do Complexo do Alemão. As favelas pedem paz, e também direitos iguais!

Virgínia Berriel, conselheira do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, também falou sobre a operação no Complexo do Alemão.
“É lamentável a situação dentro do Complexo do Alemão. Estivemos lá na segunda-feira (18) e ouvimos iniciativas de comunicação comunitária. Não aceitamos esse tipo de invasão nas comunidades. Vemos isso com muita preocupação e o CNDH está atento a essa situação que atinge favelas do Rio de Janeiro. Estivemos no Ministério Público cobrando e exigindo respostas sobre como agem os departamentos responsáveis por estas incursões policiais. O Rio de Janeiro não tem planejamento de políticas públicas voltado para pessoa que moram na favela, pessoas tão vulveráveis em situações como esta de hoje.”

FONTES: G1; DW E VOZ DAS COMUNIDADES

MS Notícias


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